Na manhã desta quarta-feira, no estúdio da Rádio Amar e Servir, o Pe. Adilson Almeida Santos SJ, capelão da Capela de Nossa Senhora de Lourdes, localizada em Belém (PA) e vinculada à missão da Companhia de Jesus, falou sobre a ação social da comunidade de fé no contexto da COP 30, que coloca a capital paraense como “capital do clima”.
Fundada em 1917 pela província amazônica da Companhia de Jesus, a Capela de Lourdes congrega não apenas liturgia e devoção, mas também um calendário significativo de atuação social. paamsj.org.br+1 Pe. Adilson lembrou que, há 15 a 20 anos, o Pe. Leopoldo Verbe SJ já realizava, “em trabalho de formiguinha”, visitas às periferias, atendendo pessoas em situação de rua ou de pobreza extrema. A partir desse legado, a comunidade jesuíta estruturou o trabalho de forma permanente, com assistência regular a pessoas em vulnerabilidade.
“Nós tentamos criar corpo nesse trabalho para não ficar uma coisa desassociada… esse é o trabalho que a gente faz, principalmente daqueles que estão mais pobres, que estão nas ruas, sem teto, sem comida, sem saúde, sem educação.” — Pe. Adilson Almeida SJ

Padre Adilson Santos, SJ é o atual capelão da Capela de Lourdes em Belém/PA /Foto: Ronnaldh Oliveira
Entre as iniciativas relatadas pelo sacerdote estão:
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A saída semanal (“todas as terças-feiras”) de equipes em “comboio de carros” com kit contendo sopa, pão e água, distribuídos a cerca de 200 pessoas em situação de rua.
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A formação de um grupo de senhoras vulneráveis (“vovozinhas”), da periferia, que participam quinzenalmente de encontros na capela com lanche, palestras e acompanhamento nas dimensões espiritual, social, saúde e educação.
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A entrega mensal de cerca de 400 marmitas para moradores de rua e o atendimento a 150 famílias cadastradas que recebem cestas básicas, além de apoio a outras famílias com alimentos pontuais.
Pe. Adilson relacionou diretamente esse serviço social ao tema das mudanças climáticas e à configuração de Belém como “capital do clima”. Ele destacou que as pessoas mais vulneráveis — aquelas em situação de rua, sem moradia ou acesso adequado — são justamente as que mais sofrem em contextos de elevadas temperaturas, de mau-tempo ou de risco ambiental.
“A temperatura é elevadíssima… e aí, claro, você percebe a quantidade de pessoas que estão nas ruas e que sofrem com tudo isso.”
Para o sacerdote, o olhar jesuíta de cuidado integral — que une espiritualidade, justiça social e compromisso ecológico — exige que essas dimensões não sejam tratadas com separação.
“Se tudo está interligado, eu não vou cuidar somente da floresta, mas do ser humano que vive nessa floresta…”
Perspectivas e desafios
Ao encerrar a conversa, Pe. Adilson fez um apelo para que a sociedade civil, institutos públicos e as igrejas se unam para potencializar essa ação. Seu “grande sonho” é a criação de um espaço público – uma grande cozinha ou restaurante social – que garanta alimentação regular (café, almoço, jantar) para pessoas em situação de rua. Ele sublinhou que muitos na rua permanecem nela por motivos complexos, não apenas por falta de comida, e que o atendimento integral (moradia, saúde, educação, dignidade) é imperativo.
A articulação deste serviço a partir da Capela de Lourdes será também importante no contexto da COP 30, que reúne 143 nações a partir dessa quinta-feira (06) na Cúpula do Clima para debater responsabilidades e respostas frente às mudanças climáticas — e que, segundo o Pe. Adilson, não pode desconsiderar o ser humano em vulnerabilidade.
Informações técnicas
Entrevista realizada no estúdio da Rádio Amar e Servir em Belém-PA. O Pe. Adilson é atualmente responsável pela Capela de Nossa Senhora de Lourdes, comunidade da Companhia de Jesus que atua na Região Episcopal de Sant’Ana da Arquidiocese de Belém