O Papa Francisco mudou o olhar da Igreja sobre os jovens. Não mais como destinatários passivos de normas e orientações, mas como protagonistas de uma transformação profunda — da Igreja e do mundo.
Padre Edson Tomé Pacheco, SJ, secretário para juventude e vocações da Província dos Jesuítas do Brasil, destaca: “Francisco reconheceu que a juventude é lugar teológico. Deus fala por meio dos jovens, e escutá-los é escutar o Espírito que age na história.”
Inspirado pelo Sínodo dos Jovens e pela exortação Christus Vivit, o Papa impulsionou uma verdadeira conversão pastoral. Criar espaços de escuta, discernimento e compromisso se tornou prioridade para comunidades eclesiais.
Uma vocação profundamente humana
O modo como Francisco falou de vocação — sempre com liberdade, proximidade e escuta — influenciou diretamente a atuação da Companhia de Jesus, sobretudo em um tempo de crise espiritual e social. “A vocação, para ele, não era só um chamado eclesial. Era um chamado humano, comunitário, aberto ao mundo. Ele nos ensinou que todos somos amados e, portanto, chamados”, afirma o jesuíta.
Esse olhar inspirou projetos como a Rede Inaciana de Juventude (MAGIS BRASIL), que articula formação, acompanhamento espiritual e compromisso social com os jovens.
Juventudes feridas, Igreja em saída
Na América Latina, juventudes enfrentam exclusão, violência e precarização. Mas, para Francisco, os jovens não são um “problema social”, e sim “parte da solução”, quando acompanhados com empatia e profundidade espiritual. “Servir a juventude é um serviço em profundidade. Exige caminhar com eles nos momentos mais decisivos da vida, ajudando-os a discernir sua missão no mundo”, explica padre Edson.
A Companhia de Jesus tem encarnado esse chamado através de suas preferências apostólicas, com foco em construir um futuro de esperança.
A missão também é digital
Mesmo vindo de uma geração analógica, Francisco compreendeu como poucos os desafios e possibilidades do mundo digital. Para ele, as redes não eram apenas meios, mas espaços de encontro e evangelização. “Ele nos ensinou a habitar o ambiente digital com presença plena, escutando a juventude e promovendo uma comunicação encarnada no Evangelho”, diz o secretário.
A Companhia de Jesus, através de seus ecossistemas digitais e projetos em rede, segue esse caminho, dialogando com os jovens em sua própria linguagem.
Legado espiritual: uma vida dada
Com emoção, padre Edson recorda o impacto pessoal de Francisco em sua missão vocacional:“Levo comigo a beleza de uma vida fecunda. Um servo que, na sua simplicidade, deu tudo. Um amigo que nos revelou Jesus nos pobres, nas mulheres, na Amazônia, nos povos originári os.”
O Papa, lembra ele, inspirava pela palavra e pelo gesto — comunicando com a vida. “Hoje nosso coração chora com gratidão. Perdemos um companheiro jesuíta, um profeta do cuidado, da juventude e da esperança.”
“Com coragem e criatividade, sigamos”
Para concluir, padre Edson retoma as palavras que Francisco dirigiu aos jovens da Pastoral de Juventude do Brasil, relembrando São José de Anchieta: “Não tenham medo. Sigam com coragem, ousadia e criatividade. A juventude é esperança viva da Igreja. E vocês nunca estarão sozinhos.”
Neste nono dia de luto, a Igreja segue em oração. Mas, com Francisco, também segue em esperança.