Nesta sexta-feira, 12 de setembro, o Papa Leão XIV discursou durante a audiência aos participantes do III Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana, realizado em Roma. O evento, que ocorre nos dias 12 e 13 de setembro, reúne líderes de diferentes países e religiões, além de prêmios Nobel e artistas internacionais, para refletir sobre os caminhos da humanidade em tempos de crise.

O discurso do Papa foi inspirado na narrativa bíblica de Caim e Abel, que serviu como guia para uma reflexão sobre a violência e a indiferença presentes no mundo atual. Leão XIV destacou que, diante do sofrimento do próximo, a resposta não pode ser o silêncio. Ele relembrou a pergunta feita por Deus a Caim: “Onde está teu irmão?” – questionamento que, segundo o Pontífice, deve ecoar nos corações hoje mais do que nunca.

“Nesta pergunta está a nossa vocação, a regra, o cânone da justiça. Deus não se vinga de Abel com Caim, mas faz uma pergunta que acompanha toda a história da humanidade”, afirmou.

A pergunta que ecoa no mundo de hoje

O Papa reformulou a pergunta bíblica, adaptando-a aos desafios contemporâneos. Ele questionou a presença e a responsabilidade de cada pessoa diante de realidades de dor e exclusão:

• “Onde você está no comércio das guerras que ceifam a vida dos jovens, que atingem civis, crianças e idosos indefesos, devastando cidades e ecossistemas?”

• “Onde você está entre os imigrantes desprezados, detidos e rejeitados, que buscam salvação e esperança e encontram muros e indiferença?”

• “Onde você está quando os pobres são culpados por sua pobreza e descartados por um mundo que valoriza mais o lucro do que a vida humana?”

• “Onde você está em uma vida hiperconectada, mas que traz solidão e enfraquece os laços sociais?”

Leão XIV reforçou que o silêncio não pode ser a resposta. A verdadeira resposta, disse ele, é escolher um caminho diferente, que promova crescimento, reconciliação e uma nova forma de viver em sociedade.

Fraternidade: o verdadeiro nome da proximidade

Segundo o Papa, a fraternidade deve ser a base para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Ela ultrapassa os laços de sangue ou interesses econômicos, fundamentando-se na humanidade comum.

“A fraternidade é o nome mais verdadeiro da proximidade. Significa reencontrar o rosto do outro. E, no rosto do pobre, do refugiado, inclusive do adversário, reconhecer o Mistério: para quem crê, a própria imagem de Deus.”

O Pontífice incentivou que este encontro internacional se torne um espaço de discernimento e ação. Ele pediu que os participantes criem novas formas de caridade social, alianças entre diferentes áreas do saber e práticas que incluam os pobres não apenas como receptores de ajuda, mas como protagonistas na construção das soluções.

“Eu os encorajo a prosseguir neste trabalho de semeadura silenciosa. Dela pode nascer um processo fundado na cura, no dom e na confiança — não no poder, no lucro ou na desconfiança.”

Encerramento e programação cultural

O encontro reúne eventos em locais históricos de Roma, como o Capitólio, a sede da FAO e a União Europeia, e será encerrado com uma grande celebração na Praça São Pedro.

A noite de encerramento contará com apresentações de artistas como Andrea Bocelli, Pharrell Williams, John Legend e o coral gospel Voices of Fire, em uma mensagem de união e paz.

A organização do evento é da Basílica de São Pedro, em parceria com a Fundação Fratelli Tutti, a Associação Be Human e a Fundação Saint Peter for Humanity. O objetivo é refletir sobre o que significa ser humano hoje, em um mundo marcado por conflitos, desigualdades, crise ambiental e desafios impostos pelo avanço tecnológico.