Na tarde de quarta-feira (1º/10), o Papa Leão XIV presidiu em Castel Gandolfo a “Celebração da Esperança pela Nossa Casa Comum”, abertura da Conferência Espalhando Esperança (Raising Hope), que marca o décimo aniversário da encíclica Laudato si’.
Em seu discurso, o Pontífice recordou a herança espiritual e pastoral do Papa Francisco e pediu que a ecologia integral seja vivida como um caminho de unidade, paz e esperança. “É preciso passar da coleta de dados ao cuidado; de discursos ambientalistas a uma conversão ecológica que transforme o estilo de vida pessoal e comunitário”, afirmou.
O coração como lugar da mudança
Retomando a encíclica Laudate Deum, Leão XIV destacou que o cuidado com a criação não pode ser reduzido a moda passageira ou tema de disputa política. “Nas Escrituras, o coração é a sede da liberdade. É somente por meio de um retorno ao coração que pode acontecer também uma verdadeira conversão ecológica”, sublinhou.
O Papa alertou para o risco de minimizar ou ridicularizar as mudanças climáticas e ressaltou que a conversão ecológica não se separa da fé cristã: “Não se pode amar o Deus que não se vê desprezando suas criaturas”.
Unidade pela Casa Comum
O Pontífice reforçou que ecologia integral está diretamente ligada à justiça social e à atenção aos mais pobres: “Somos uma única família, com um Pai comum; habitamos um mesmo planeta, do qual devemos cuidar juntos”.
Ele também incentivou que encontros internacionais próximos — como a COP30, a sessão da FAO sobre segurança alimentar e a Cúpula da Água da ONU em 2026 — sejam espaços de escuta “do grito da Terra e do grito dos pobres”.
Prestar contas a Deus
Encerrando sua fala, Leão XIV deixou uma provocação espiritual:
“Deus nos perguntará se cultivamos e cuidamos do mundo que Ele criou, para o bem de todos e das gerações futuras, e se cuidamos de nossos irmãos e irmãs. Qual será a nossa resposta?”
O evento e os testemunhos
A Conferência Internacional é promovida pelo Movimento Laudato si’, em colaboração com o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Caritas Internationalis, CIDSE, UISG, Movimento dos Focolares e a Ecclesial Networks Alliance. Mais de mil participantes de todo o mundo se reúnem até 3 de outubro no Centro Mariápolis, em Castel Gandolfo.
Na cerimônia de abertura, o Papa abençoou um fragmento de gelo de 20 mil anos, trazido da Groenlândia pelo artista Olafur Eliasson e pelo geólogo Minik Rosing. O gesto integrou o projeto Ice Watch e simbolizou a urgência da crise climática.
Entre os testemunhos, a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, relacionou os 10 anos da Laudato si’ ao Acordo de Paris, criticou os trilhões ainda destinados a combustíveis fósseis e convidou o Papa para participar da COP30, que será realizada em Belém, em 2025. “Essa será a COP da esperança”, afirmou.
Também interveio o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, que defendeu a energia limpa como motor de crescimento e pediu que líderes religiosos conscientizem sobre saúde e justiça ambiental. Já Yeb Saño, presidente do Conselho do Movimento Laudato si’, reforçou o chamado à responsabilidade ética e à unidade global diante da crise climática.