Papa Leão XIV: é urgente dedicar atenção às famílias distantes de Deus
Na mensagem ao seminário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o Papa alerta sobre os riscos de uma fé privatizada e convida a Igreja a caminhar com as famílias, especialmente aquelas mais distantes da vida comunitária.
Por Redação Rádio Amar e Servir
Publicado em 02/06/2025 13:18 • Atualizado 02/06/2025 13:21
Papa
Missa para o Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos (@Vatican Media)

O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos participantes do seminário “Evangelizar com as famílias de hoje e de amanhã. Desafios eclesiológicos e pastorais”, promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que ocorre nos dias 2 e 3 de junho, na sede do Dicastério, em Roma.

O encontro, realizado logo após o Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, reúne especialistas, agentes pastorais e representantes da Igreja para refletir sobre os desafios e horizontes da evangelização das famílias no contexto atual.

Em sua mensagem, o Papa ressalta que o tema do seminário “expressa bem a preocupação maternal da Igreja com as famílias cristãs presentes em todo o mundo: membros vivos do Corpo Místico de Cristo e o primeiro núcleo eclesial ao qual o Senhor confia a transmissão da fé e do Evangelho, especialmente às novas gerações”.

O Papa recorda que “a profunda questão do infinito, inscrita no coração de cada homem, confere aos pais e mães de família a tarefa de conscientizar seus filhos sobre a Paternidade de Deus”, ecoando as palavras de Santo Agostinho nas Confissões: “Assim como em Ti temos a fonte da vida, assim também na Tua luz veremos a luz”.

 Uma Igreja que acolhe, acompanha e evangeliza

Leão XIV destaca que vivemos um tempo marcado por “uma crescente busca pela espiritualidade, especialmente entre os jovens, que desejam relações autênticas e mestres de vida”. Diante desse cenário, a Igreja é chamada a ter um olhar atento e cuidadoso, capaz de reconhecer “o anseio de fé que habita o coração de cada pessoa”, mesmo daqueles que, à primeira vista, parecem distantes.

O Papa faz um apelo particular para que haja uma atenção especial às famílias que, por diferentes motivos, “não se sentem envolvidas, dizem não estar interessadas ou se sentem excluídas dos percursos comuns, mas que, no entanto, gostariam de ser de alguma forma parte de uma comunidade, na qual crescer e com a qual caminhar”.

Diante da privatização da fé e de modelos ilusórios de vida disseminados sobretudo nas redes sociais, Leão XIV alerta que “muitos acabam se apoiando em falsos apoios que, não suportando o peso de suas necessidades mais profundas, os fazem deslizar novamente, distanciando-os de Deus e fazendo-os naufragar num mar de solicitações mundanas”.

O Papa reafirma que a missão da Igreja — pastores, leigos, famílias e comunidades — é “ir pescar esta humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte através do encontro com Cristo”.

 Testemunhar a graça do matrimônio e o amor de Deus

O Papa volta seu olhar especialmente para os jovens que, em muitos casos, escolhem a convivência em vez do matrimônio cristão. Segundo ele, “talvez precisem de alguém que lhes mostre, sobretudo com o exemplo de vida, o que é o dom da graça sacramental e qual a força que dela provém”, ajudando-os a compreender “a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida”.

Leão XIV destaca que muitos pais, na educação dos filhos na fé, necessitam de comunidades que os apoiem, oferecendo ambientes onde seja possível encontrar Jesus e viver experiências concretas de comunhão e amor.

Ele também faz uma crítica a modelos de pastoral que, no passado, acabaram reduzindo a vida cristã a um “conjunto de preceitos a serem respeitados, substituindo a experiência maravilhosa do encontro com Jesus, Deus que se doa a nós, por uma religião moralista, pesada, pouco atraente e, de certa forma, inviável na concretude da vida quotidiana”.

Ser “pescadores de famílias” na missão evangelizadora

O Papa afirma que cabe, “antes de tudo, aos bispos, sucessores dos apóstolos e pastores do rebanho de Cristo, lançar as redes ao mar, tornando-se ‘pescadores de famílias’”. Mas também faz um forte chamado aos leigos, que, junto aos ministros ordenados, são convocados a serem “pescadores de casais, de jovens, crianças, mulheres e homens de todas as idades e condições, para que todos possam encontrar Aquele que é o único que pode salvar”.

“De fato, cada um de nós, no Batismo, é constituído sacerdote, rei e profeta para os irmãos, e se torna ‘pedra viva’ para a construção do edifício de Deus, na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades”, reforça o Papa.

Ao concluir sua mensagem, Leão XIV reforça que caminhar com as famílias, especialmente aquelas feridas ou distantes, exige da Igreja “abrir-se, quando necessário, a novos critérios de avaliação e a diferentes modos de agir, porque cada geração é diferente da outra e apresenta seus desafios, sonhos e interrogações”.

 

“Mas, em meio a tantas mudanças, Jesus Cristo permanece ‘o mesmo ontem, hoje e sempre’. Portanto, se queremos ajudar as famílias a viverem caminhos alegres de comunhão e serem sementes de fé umas para as outras, é necessário que, antes de tudo, cultivemos e renovemos a nossa identidade de fiéis”, conclui o Papa.

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