Padre Geral dos Jesuítas expressa gratidão pela vida de Francisco e convida à oração
Sosa escreve que Francisco foi mais que um Papa: foi um irmão que partilhou do mesmo carisma espiritual.
Por Redação Rádio Amar e Servir
Publicado em 23/04/2025 20:39 • Atualizado 24/04/2025 01:24
Papa
Papa Francisco e padre Arturo Sosa, SJ se encontram em fraternidade/ Foto: Jesuits Global

O Papa Francisco, primeiro pontífice jesuíta e latino-americano da história da Igreja, faleceu nesta segunda-feira de Páscoa, 21 de abril de 2025, aos 88 anos, em Roma. Em carta dirigida à Companhia de Jesus, o Superior Geral, Pe. Arturo Sosa, SJ, expressou profunda comoção e gratidão pelo legado espiritual e pastoral de Jorge Mario Bergoglio, que esteve à frente da Igreja por mais de 12 anos.

“O sentimento que predomina é de gratidão a Deus Pai, rico em misericórdia, por tanto bem recebido através do serviço de uma vida inteira”, escreveu o Pe. Sosa. Ele recordou os principais gestos e documentos do pontificado, como as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli tutti, e a firme ênfase no diálogo, na paz, na sinodalidade e na oração como eixo da vida cristã.

Para a Companhia de Jesus, Francisco foi mais que um Papa: foi um irmão que partilhou do mesmo carisma espiritual. “O jesuíta é servidor da alegria do Evangelho”, disse ele ao falar aos confrades durante a 36ª Congregação Geral da Ordem. A alegria, a humildade e a disponibilidade ao serviço dos pobres marcaram seu modo de proceder.

O Pe. Sosa convidou toda a Igreja e especialmente os jesuítas a acompanharem com a oração a Páscoa definitiva de Francisco, “confiante de que o Senhor acolhe seu fiel servo no banquete eterno”. Com seu exemplo, conclui, renovamos o compromisso de seguir Jesus pobre e humilde e servir à sua Igreja com alegria.

Confira o texto na íntegra: 

Falecimento do Papa Francisco
A TODA A COMPANHIA

Queridos irmãos,

A Companhia de Jesus partilha da dor de todo o Povo de Deus, reunido na Igreja, em comunhão com tantas outras pessoas de boa vontade, pelo fim da vida terrena do Papa Francisco. Fazemos isso com profundo sentimento e com a serenidade que nasce da firme esperança na ressurreição, pela qual o Senhor Jesus nos abriu a porta para a plena participação na vida de Deus.

Lamentamos o falecimento daquele que foi colocado a serviço da Igreja Universal e exerceu o ministério petrino por mais de 12 anos. Ao mesmo tempo, sentimos a partida de nosso querido irmão nesta mínima Companhia de Jesus, Jorge Mario Bergoglio. Na Companhia, partilhamos o mesmo carisma espiritual e o mesmo modo de seguir Nosso Senhor Jesus Cristo.

Estamos entristecidos com sua partida, e ainda assim, brota espontaneamente de nossos corações um profundo sentimento de gratidão a Deus Pai, rico em misericórdia, por tanto bem recebido através do serviço de toda uma vida e pela maneira como o Papa Francisco soube conduzir a Igreja durante seu pontificado, em comunhão e continuidade com seus predecessores, no esforço de colocar em prática o espírito e as diretrizes do Concílio Vaticano II.

O Papa Francisco manteve um olhar atento ao que acontecia no mundo, para oferecer uma palavra de esperança a todos. Suas extraordinárias encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti revelam não apenas uma análise lúcida da condição da humanidade, mas, à luz do Evangelho, oferecem também caminhos para eliminar as causas de tantas injustiças e promover a reconciliação. Para o Papa Francisco, o diálogo com o outro — entre adversários políticos, entre religiões e culturas — é o caminho para continuar propondo a paz e a estabilidade social, criando ambientes de compreensão mútua, cuidado e apoio solidário.

Em muitas ocasiões, ouvimos suas palavras, sua reflexão pastoral, e admiramos sua incansável atividade, sempre propondo iniciativas ou aderindo a iniciativas de outros, convencido do valor da palavra e do encontro. Como esquecer o extraordinário momento de oração que ele mesmo convocou diante da emergência do coronavírus, em março de 2020, na Praça de São Pedro vazia? Ou sua constante preocupação com a paz frente à intolerância e às guerras que ameaçam a convivência internacional e geram sofrimentos incontáveis entre os mais indefesos? Ou a empatia do seu coração com o imenso fluxo de pessoas forçadamente deslocadas no mundo, especialmente aquelas obrigadas a arriscar suas vidas cruzando o Mediterrâneo?

Nas palavras pronunciadas na noite de 13 de março de 2013, ao saudar os fiéis reunidos na Praça de São Pedro para celebrar o novo Papa eleito, já encontramos duas dimensões-chave de seu ministério: a importância de caminhar juntos — Bispo e povo — em um caminho de fraternidade, amor, confiança e esperança; e a centralidade da oração, especialmente a de intercessão.

A importância dada ao desenvolvimento do Sínodo dos Bispos e à atenção à sinodalidade como dimensão constitutiva do ser Igreja exemplificam notavelmente esse "caminhar juntos". Em nada diminui o Primado de Pedro ou a responsabilidade episcopal; ao contrário, permite que seja exercido com a participação consciente de todos os batizados, do povo de Deus em caminho, reconhecendo a presença e a ação do Senhor por meio de seu Espírito Santo na vida da comunidade eclesial.

Aquele convite à oração, feito naquela noite a todos os fiéis, está gravado em nossa memória: Rezemos juntos, Bispo e povo. Peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe. Ao longo de seu pontificado, ele concluiu seus discursos, incluindo o Ângelus dominical, com o mesmo pedido: Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Ele nunca se cansou de nos lembrar que a oração nasce da confiança em Deus e da familiaridade com Ele. Na oração, podemos descobrir o segredo da vida dos santos (cf. Audiência Geral de 28 de setembro de 2022).

Quando se dirigia a nós, seus irmãos jesuítas, sempre insistia na importância de reservarmos espaço suficiente em nossa vida-missão para a oração e a atenção à experiência espiritual. Basta recordarmos o que me escreveu em sua carta de 6 de fevereiro de 2019, comunicando sua aprovação e confirmação das Preferências Apostólicas Universais: A primeira preferência (mostrar o caminho para Deus mediante os Exercícios Espirituais e o discernimento) é crucial porque pressupõe como condição básica a relação do jesuíta com o Senhor, numa vida pessoal e comunitária de oração e discernimento. Recomendo que, no seu serviço como Superior Geral, insista nisso. Sem essa atitude orante, as outras preferências não darão fruto. Ele reafirmou assim a exortação que fez em seu encontro com os membros da 36ª Congregação Geral (24 de outubro de 2016), quando insistiu fortemente na necessidade de pedir continuamente a consolação, permitindo-nos ser comovidos pelo Senhor crucificado, que nos move ao serviço de tantos crucificados no mundo de hoje.

Naquela ocasião, apontou-nos algo que podemos considerar um elemento essencial de nossa identidade. Como que respondendo a uma pergunta implícita sobre quem é o jesuíta, o Papa Francisco se dirigiu à Congregação e afirmou que o jesuíta é um servo da alegria do Evangelho em qualquer missão que esteja assumindo. Dessa alegria brota nossa obediência à vontade de Deus, nosso envio ao serviço da missão da Igreja e de nossos apostolados, juntamente com nossa disponibilidade para o serviço dos pobres. É essa alegria que deve caracterizar nosso modo de proceder, de forma eclesial, inculturada, pobre, voltada para o serviço, livre de toda ambição mundana.

O chamado à alegria que vem do Crucificado-Ressuscitado e de seu Evangelho, por meio do qual essa notícia consoladora é proclamada, foi uma marca constante do pontificado de Papa Francisco. Não por acaso, muitos de seus documentos magisteriais, começando com a exortação apostólica Evangelii Gaudium, que deu o tom ao seu pontificado, têm nos próprios títulos essa referência à alegria profunda que, para ele, era algo indispensável.

É precisamente a partir de uma relação viva e vivificante com o Senhor, fundada na consolação e na alegria, que poderemos atuar pastoralmente, mas sobretudo com o testemunho de uma vida inteiramente dedicada ao serviço da Igreja, Esposa de Cristo, fermento evangélico do mundo, na incessante busca da glória de Deus e do bem das almas (resposta do Papa Francisco aos cumprimentos do Pe. Adolfo Nicolás por sua eleição, 16 de março de 2013).

Recordamos com gratidão no coração a atenção discreta e constante do Papa Francisco à Companhia de Jesus, à nossa vida e ao nosso apostolado. Muitos de vocês puderam encontrá-lo em diversos países do mundo, pois ele sempre encontrava tempo para um diálogo franco e fraterno com os jesuítas que viviam e trabalhavam nos lugares por onde passava.

Acompanhamos o Papa Francisco com nossos corações e orações em seu encontro definitivo com o Deus do amor incondicional e da misericórdia infinita, cujo rosto o Papa Francisco nos mostrou com sua vida e ensinamento. Confiantes de que o Senhor acolhe seu fiel Servo no banquete do céu, e movidos por seu exemplo, renovamos nosso desejo e nosso compromisso de seguir Jesus pobre e humilde e de servir sua Igreja.

Arturo Sosa, SJ
Superior Geral

Roma, 21 de abril de 2025
Segunda-feira de Páscoa

 

 

Confira também o vídeo produzido pela Casa Geral dos Jesuítas

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