“Brasil não tem medo de discutir a transição energética”, diz Lula durante Cúpula do Clima
Presidente reforça protagonismo brasileiro em energias renováveis e apresenta compromissos por uma transição justa — um dos temas centrais de incidência e reflexão da Companhia de Jesus e de sua delegação na COP30, em Belém
Por Ronnaldh Oliveira
Publicado em 07/11/2025 18:44
COP 30
Sessão Temática de Transição Energética, na Cúpula do Clima de Belém, que reúne lideranças mundiais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

Durante a sessão temática sobre transição energética da Cúpula do Clima, realizada nesta sexta-feira (7), em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o protagonismo brasileiro na defesa das energias limpas e defendeu uma transição justa, solidária e inclusiva, que una tecnologia, equidade e sustentabilidade.

“O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas”, afirmou o presidente, recordando que ainda nos anos 1970 o país foi pioneiro no investimento em alternativas renováveis.

Atualmente, 90% da matriz elétrica brasileira provém de fontes limpas, e o país é o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis. Lula também destacou o uso de motores flex e a mistura de etanol e biodiesel aos combustíveis fósseis como parte de uma transição concreta já em curso.

“Nossa gasolina tem 30% de etanol e nosso diesel conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para setores como a indústria e os transportes”, ressaltou.

 

Energia limpa, justiça social e fé em ação

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também participou da sessão e destacou que os investimentos globais em energia limpa já ultrapassam os dois trilhões de dólares, superando o montante aplicado em combustíveis fósseis.

“Cada dólar investido em energias renováveis cria três vezes mais empregos do que um dólar investido em combustíveis fósseis. A revolução das energias renováveis chegou”, afirmou Guterres, defendendo uma transição que coloque as pessoas e a equidade no centro das políticas climáticas.

Essa perspectiva está em plena sintonia com o horizonte da Companhia de Jesus, cuja delegação presente em Belém participa ativamente da COP30 para contribuir com propostas e reflexões em torno de uma transição energética justa.

Para os jesuítas, este tema não é apenas técnico, mas ético, social e espiritual, integrando-se às Preferências Apostólicas Universais a partir da missão de “cuidar da Casa Comum”.
A delegação jesuíta vê na transição energética um instrumento concreto de justiça socioambiental, capaz de promover dignidade, reduzir desigualdades e garantir acesso à energia limpa para todos, especialmente nas periferias urbanas e comunidades amazônicas.

 

Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis

Durante a mesma sessão, foi reapresentado o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis — “Belém 4X”, co-patrocinado por Brasil, Itália e Japão, que propõe quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.

A iniciativa já conta com 19 países signatários, entre eles Brasil, Canadá, Índia, Japão e Moçambique, e busca incentivar políticas e cooperação internacional em torno de hidrogênio verde, biogás e biocombustíveis.

A diversidade de adesões reforça a percepção de que a transição energética é um desafio global, e que a cooperação internacional é essencial para torná-la acessível, justa e sustentável.

 

Pobreza energética: o rosto humano da crise

Em tom contundente, Lula lembrou que 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar e que 200 milhões de crianças estudam em escolas sem eletricidade.

“Enquanto não forem enfrentadas as injustiças das dívidas externas e abandonadas as condicionalidades que discriminam os países em desenvolvimento, a sociedade continuará andando em círculos”, advertiu o presidente.

A reflexão ecoa na missão da Companhia de Jesus, presente em comunidades amazônicas, periféricas e rurais, onde a falta de energia representa também ausência de oportunidades e direitos básicos.
Para os jesuítas, combater a pobreza energética é garantir vida plena, fortalecendo o compromisso de “caminhar com os pobres e os descartados”, uma das dimensões centrais da missão apostólica.

 

Três compromissos centrais do Brasil

Lula apresentou três compromissos concretos para impulsionar a transição energética:

  1. Implementar o Acordo de Dubai, que prevê triplicar a geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030;
  2. Colocar a eliminação da pobreza energética no centro dos debates, com metas de cocção limpa e acesso universal à eletricidade nos planos climáticos nacionais;
  3. Aderir e fortalecer o Compromisso de Belém (Belém 4X) como plataforma de cooperação global.

“Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. E nós, líderes, devemos decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, concluiu Lula.

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