“Se vocês querem cultivar a paz, cuidem da Criação.” Com essas palavras, o Papa Leão XIV abriu sua mensagem à 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém do Pará. O texto foi lido nesta sexta-feira (7) pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, diante de chefes de Estado e delegações internacionais reunidas na capital amazônica.
Na mensagem, o Pontífice alertou que “em um mundo em chamas, tanto pelo aquecimento global quanto pelos conflitos armados”, a conferência precisa se tornar “um sinal de esperança”, capaz de unir povos, ideias e compromissos concretos.
“Existe uma clara ligação entre a construção da paz e a custódia da Criação”, afirmou o Papa, recordando que a paz também é ameaçada pela destruição ambiental, pela pilhagem dos recursos naturais e pelo declínio da qualidade de vida causado pelas mudanças climáticas.
Uma aliança global pela vida
O Papa ressaltou que a crise ecológica é um desafio de dimensão global e, portanto, exige cooperação internacional e um multilateralismo “coeso, solidário e voltado para o futuro”, que coloque no centro “a sacralidade da vida, a dignidade humana dada por Deus e o bem comum”.
Ele advertiu, porém, que ainda se observam comportamentos e políticas marcadas por “egoísmo coletivo e falta de responsabilidade com o outro”.
“Esta conferência precisa ser um sinal de esperança, um espaço de escuta e respeito mútuo, em que prevaleça o consenso sobre os interesses particulares”, disse o Santo Padre, pedindo responsabilidade diante das gerações futuras.
Da crise ecológica à conversão solidária
O Papa recordou o ensinamento de São João Paulo II, que já na década de 1990 reconhecia a crise ecológica como um “problema moral” e sublinhava a urgência de uma nova solidariedade entre os países industrializados e os em desenvolvimento.
Segundo Leão XIV, “aqueles que se encontram em maior vulnerabilidade são sempre os primeiros a sofrer com as mudanças climáticas, o desmatamento e a poluição”. Por isso, “cuidar da criação torna-se uma expressão de humanidade e de solidariedade”.
“Precisamos transformar palavras e reflexões em ações concretas, baseadas em responsabilidade, justiça e equidade”, afirmou o Papa. “Somente assim construiremos uma paz duradoura, cuidando da criação e do próximo.”
Responsabilidade comum
Leão XIV pediu que a resposta à crise climática envolva não apenas governos, mas também pesquisadores, jovens, empresários, comunidades de fé e organizações sociais.
Ele lembrou os dez anos do Acordo de Paris e exortou os países a “acelerarem, com coragem, sua implementação”.
O Papa também recordou o décimo aniversário da encíclica Laudato Si’, de Francisco, reafirmando que “o clima é um bem comum, de todos e para todos”, e que a conversão ecológica deve inspirar uma nova arquitetura financeira internacional centrada na dignidade humana.
Essa estrutura, afirmou, precisa garantir que os países mais pobres e vulneráveis possam desenvolver-se plenamente e ver respeitados os direitos de seus cidadãos, reconhecendo a relação entre “dívida ecológica e dívida externa”.
Educar para a ecologia integral
Na parte final de sua mensagem, o Papa Leão XIV defendeu a promoção de uma educação ampla sobre a ecologia integral — capaz de mostrar como as decisões pessoais, comunitárias e políticas moldam o futuro comum da humanidade.
Essa formação, segundo o Pontífice, deve sensibilizar para a crise climática e “inspirar estilos de vida que respeitem a criação e salvaguardem a dignidade humana e a inviolabilidade da vida”.
“Que todos os participantes desta COP30 se comprometam a proteger e cuidar da Criação que nos foi confiada por Deus, para construir um mundo pacífico”, concluiu.
O cardeal Pietro Parolin encerrou a leitura assegurando as orações do Santo Padre “enquanto, nesta COP30, tomam-se decisões importantes para o bem comum e o futuro da humanidade”.