“‘Não é mais mudança, é um novo clima’: estreia do Missão COP30 põe Amazônia, ciência e fé no centro do debate”
No ar pela Rádio Amar e Servir, a primeira edição do Missão COP30 abriu a cobertura da Cúpula do Clima e da COP30 com a teóloga Suzana Moreira (Suzy) e o engenheiro ambiental Paulo Castro. Em diálogo que costura espiritualidade inaciana, ciência e política, eles defenderam a esperança ativa, lembraram os 30 anos do processo multilateral do clima e destacaram a presença histórica da Igreja Católica no evento.
Por Ronnaldh Oliveira
Publicado em 06/11/2025 18:46
COP 30
Participantes do primeiro programa ao vivo de "Missão COP30"/ Foto: reprodução COP30

Belém (PA) — “Nós estamos aqui na cidade de Belém, a capital do clima, durante todo esse mês de novembro… Não é uma questão de cumprir agenda, mas de refletir, dialogar, propor e negociar”, abriu o jornalista e missionário digital Ronnaldh Oliveira, apresentador do Missão COP30, programa diário da Rádio Amar e Servir durante a Cúpula do Clima e a COP30, retransmitido por rádios parceiras e pelos canais de Jesuítas Brasil e EcoJesuít.

Ao contextualizar o momento, Ronnaldh lembrou que a Cúpula do Clima foi convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reúne “143 delegações”, num encontro prévio à abertura oficial da COP. Segundo ele, Lula afirmou na plenária geral que “essa é a COP da verdade”, um chamado a levar a sério o tempo que “está se esgotando”.

“O objetivo é global  e também local”

Convidada da estreia, Suzana Moreira (Suzy), doutoranda em Teologia pela PUC-Rio e integrante do Movimento Laudato Si’e do Cebitepal (CELAM), explicou o lugar da Cúpula no processo da ONU iniciado no Brasil, na Rio-92:
“A Cúpula do Clima é basicamente o grupo dos representantes das nações que se reúnem para discutir as questões do clima… O espaço azul é onde os representantes das nações se encontram para negociar; a zona verde acolhe movimentos, ONGs e sociedade civil. Apesar de ser internacional, tudo repercute a nível local.”

Para ela, o encontro no coração da Amazônia é simbólico e estratégico:
“Essa cúpula está sendo chamada a cúpula da adaptação… São mais de 140 delegações tentando dialogar. É um processo complexo. Mas sabemos que as coisas podem mudar.

“Nós já vivemos um novo clima”

Paulo Castro, engenheiro ambiental e mestre, professor na Universidade Federal do Pampa e doutorando em Teologia (PUC-RS), trouxe o diagnóstico científico:
“Nós precisamos ouvir o que a floresta tem a dizer… A crise ambiental é uma manifestação do que o planeta está sofrendo. Não é mais um processo de mudança, já é um novo clima. Nós já alteramos essa atmosfera.”

Ele citou o histórico de cooperação internacional para mostrar que resultados são possíveis:
“Houve resultado quando os países se mobilizaram e aprovaram o Protocolo de Montreal para frear a degradação da camada de ozônio. Agora o foco é o acúmulo de carbono na atmosfera.”

Entre os pontos críticos, destacou a preservação florestal e a urgência de financiamento:
“É essencial aprovar o Fundo de Financiamento das Florestas Tropicais… Nós precisamos preservar as florestas para não aumentar ainda mais a quantidade de carbono na atmosfera.”

Em linguagem didática, explicou o ciclo do carbono:
“Quando a árvore cresce, fixa CO pela fotossíntese; quando é degradada ou queimada, libera carbono. Já os combustíveis fósseis retiram carbono geologicamente armazenado e o lançam na atmosfera, super concentrando.”

Paulo também alertou para a crise dos plásticos:
“Pesquisas recentes detectaram microplástico no sangue, no coração e no cérebro humano… Produzir menos resíduos e descartar corretamente é cuidado com a vida do planeta e com a vida humana.”

Conversão ecológica: fé que vira prática

Do ponto de vista teológico, Suzy articulou ciência, política e espiritualidade a partir da Doutrina Social da Igreja e do método ver–julgar–agir:
“A teologia também é ciência e tem método… O Papa Francisco costura na Laudato Si’ o olhar para a realidade, o discernimento à luz da fé e a passagem à ação. A raiz humana da crise está na nossa desconexão com Deus e com a criação.”

Para ela, unir as dimensões passa por uma conversão ecológica que brota do encontro com Cristo:
“Não tem como salvar uma alma fora do corpo… Vivemos num corpo que depende da terra. Jesus é a nossa âncora: Ele nos move a mudar estilos de vida e a agir juntos.”

Suzy também recordou os quatro sonhos do Papa Francisco para a Amazônia — eclesial, social, cultural e ecológico e a força da sinodalidade:
“É caminhar juntos. No multilateralismo da COP e, para nós, na sinodalidade da Igreja. Somos chamados a cuidar juntos da casa comum.”

Presença católica histórica na COP30

Segundo Suzy, esta será “a maior presença católica de todas as COPs”, com número recorde de cardeais e uma articulação nacional que vem sendo construída há dois anos:
“Igreja Rumo à COP30 uniu organismos, instituições e movimentos, realizou pré-COPs em todas as regiões do país e agora chega a Belém com uma agenda recheada.”

Ela convidou quem não está em Belém a acompanhar pelas redes e a engajar-se localmente:
“Busquem as informações… Discernir como, nas nossas paróquias e comunidades, podemos fazer parte dessa jornada de esperança pela casa comum.”

Esperança ativa e responsabilidades compartilhadas

Num tom pastoral, Paulo retomou a chave espiritual:
“Não podemos cair no alarmismo. Precisamos alimentar o coração com esperança… Quando eu cuido da criação, eu cuido da vida; quando degrado a criação, degrado a vida humana.”

Para ele, a resposta une níveis pessoal, comunitário, institucional e global:
“É necessário o meu esforço, o das instituições e o da cooperação internacional.”

Serviço, rede e missão comum

Ao encerrar, Ronaldh reforçou a missão compartilhada e a programação contínua:
“A missão não é minha, é de todos nós… Seguimos até 21 de novembro, com cobertura pela Rádio Amar e Servir(aplicativos iOS, Android e Alexa), Jesuítas Brasil, EcoJesuít, TVs e rádios parceiras.”

Suzy deixou um convite: “Que a gente se apaixone por Jesus Cristo e reconheça a criação como chamado a cuidar do dom de Deus.”

Paulo concluiu: “É um momento de alegria por ver povos e nações pensando um mundo melhor para todos nós.”

 

Assista o programa na Integra:

Comentários

Mais notícias