“É possível ser amigos na Cúria Romana?” Leão XIV propõe missão e comunhão como critério do serviço eclesial
Em mensagem de Natal aos colaboradores da Cúria, Papa alerta contra rigidez, ideologia e disputas de poder e defende relações fraternas como sinal profético para a Igreja e o mundo
Por Redação Rádio Amar e Servir
Publicado em 22/12/2025 18:08
Papa

 

O Papa Leão XIV encontrou-se na manhã desta segunda-feira (22) com os colaboradores da Cúria Romana para as tradicionais felicitações natalinas e, em um discurso de forte densidade pastoral, refletiu sobre os desafios da missão e da comunhão na vida da Igreja. Inspirado na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, de Francisco, o Pontífice questionou se é possível construir relações autênticas de amizade e fraternidade no interior das estruturas eclesiais.

Ao recordar com gratidão o magistério e o estilo pastoral de seu predecessor, Leão XIV destacou que a Cúria deve ser cada vez mais orientada pela conversão missionária da Igreja. Segundo o Papa, as estruturas não podem se tornar um obstáculo à evangelização, mas devem favorecer o dinamismo do anúncio do Evangelho e o serviço às Igrejas particulares e aos seus pastores.

O Pontífice sublinhou que a missão está intrinsecamente ligada à comunhão, entendida não como uniformidade, mas como expressão da diversidade reconciliada em Cristo. Nesse sentido, advertiu para os riscos da rigidez e da ideologia, que geram polarizações e dificultam o caminho sinodal. Para Leão XIV, a comunhão se constrói menos por documentos e mais por gestos concretos, atitudes cotidianas e relações marcadas pela confiança e pelo reconhecimento mútuo.

O Papa também lamentou a presença de certa amargura no ambiente curial, muitas vezes associada ao apego ao poder, à busca de protagonismo e à defesa de interesses pessoais. Diante disso, questionou diretamente se é possível viver relações de amizade na Cúria Romana e defendeu uma conversão pessoal que permita relações mais fraternas, transparentes e evangélicas.

Leão XIV ampliou a reflexão ao afirmar que uma Cúria marcada pela comunhão torna-se sinal profético para um mundo ferido por conflitos, violências e polarizações, frequentemente agravadas pelo uso instrumental do ambiente digital e da política. O Natal, afirmou, renova o chamado da Igreja a ser testemunha da paz e do Reino de Deus.

Ao concluir, o Pontífice recordou os 50 anos da Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, de Paulo VI, reafirmando que o testemunho de uma vida cristã vivida na comunhão é o maior serviço que cada membro da Igreja pode oferecer. O encontro foi encerrado com a saudação pessoal do Papa aos colaboradores e a entrega de um exemplar do livro A prática da presença de Deus.

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