Coordenadora no CEAS diz no 13 de maio: "Em tempos sombrios, tecemos esperanças!
Em entrevista à Rádio Amar e Servir, Nélia Nascimento, do CEAS, denuncia as marcas da escravidão e destaca a resistência das comunidades negras no Brasil
Por Redação Rádio Amar e Servir
Publicado em 13/05/2025 21:14 • Atualizado 13/05/2025 21:17
Justiça Socioambiental
Foto: A

A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, é frequentemente celebrada como o fim da escravidão no Brasil. No entanto, como lembra Nélia Nascimento, coordenadora do programa de memórias do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), da Companhia e Jesus em Salvador, essa abolição foi formal, mas incompleta. “Não houve nenhum projeto de reparação histórica, econômica ou cultural. O povo negro foi deixado à própria sorte”, afirma.

Segundo ela, o Estado brasileiro jamais promoveu políticas efetivas de inclusão para os milhões de ex-escravizados e seus descendentes. Essa omissão originou um sistema de exclusão que perdura até hoje, sustentando desigualdades profundas.

Racismo estrutural e permanência da exclusão

A entrevista também evidencia como o racismo estrutural atravessa diversas dimensões da vida social no Brasil: saúde, educação, segurança, habitação e emprego. “A população negra está nos piores indicadores sociais. Não por acaso, mas por causa de um sistema que continua a nos excluir”, denuncia Nélia.

Ela cita como exemplo a violência policial, o genocídio da juventude negra e a ausência de representatividade política como expressões contemporâneas desse racismo institucionalizado.

Resistência e organização comunitária

Apesar dos desafios, a população negra segue resistindo, organizando-se e reivindicando seus direitos. O CEAS, há mais de 50 anos, acompanha e fortalece iniciativas populares em comunidades negras e periféricas, com foco na justiça social, soberania alimentar, meio ambiente e promoção da vida.

“Temos uma força ancestral, comunitária, coletiva. É nela que a gente se sustenta para continuar a luta”, diz Nélia. Ela ressalta a importância da formação política, do protagonismo juvenil e da valorização da cultura negra como caminhos de resistência.

Reparação e esperança ativa

Para Nélia, o debate sobre reparação precisa ser parte da agenda pública e política do país. “Reparar é reconhecer os danos, mas também transformar as estruturas que mantêm as desigualdades. Isso exige políticas concretas, vontade política e escuta das vozes negras”, conclui.

A luta do 13 de Maio, portanto, não é apenas por memória, mas por transformação. “Não aceitamos mais um país que celebra a abolição e continua nos matando. A nossa história é de resistência, e também de esperança ativa.”

 

 

Ouça a entrevista completa na programação da Rádio Amar e Servir e no portal radioamareservir.com

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