A celebração dos 10 anos da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis ganham uma relevância ainda maior em 2025. Isso porque, neste mesmo ano, o mundo volta seus olhos para a Amazônia, no Brasil, que será palco da COP30, a maior conferência climática do planeta.
Em meio a um cenário de alertas cada vez mais urgentes sobre a crise climática, a Rádio Amar e Servir conversou, na Semana Laudato Si’, com Eduardo Scorssato, coordenador de campanhas do Movimento Laudato Si’ no Brasil, sobre os caminhos que a Igreja, a sociedade e cada pessoa podem percorrer rumo a uma verdadeira ecologia integral, como pede o Papa Francisco.
Laudato Si’: luz que ainda ilumina
"O que me é muito recorrente é que a Laudato Si’ é um texto iluminado e iluminador", afirma Eduardo. Segundo ele, mesmo uma década depois de sua publicação, a encíclica segue atual e urgente, capaz de despertar consciência, indignação e compromisso.
Na visão do coordenador, um dos maiores legados da encíclica é a reconstrução das nossas relações com a Terra, vista não como um recurso a ser explorado, mas como “casa comum, mãe e irmã”. “Nós não somos donos, nem proprietários, nem usurpadores. Fomos criados com ela, para ela, como parte dela”, reflete.
Feridas abertas e desafios permanentes
Apesar dos avanços em conscientização, Eduardo alerta que “a realidade segue marcada pelas trevas”, com um modelo econômico e social que continua explorando e destruindo o planeta.
“A Laudato Si’ segue iluminando essas trevas. O desafio pela ecologia integral é permanente e transversal. Precisamos avançar da reflexão para a ação, da sensibilização para a transformação”, reforça.
Ele lembra que a crise climática já bate à porta e que as possibilidades de evitar pontos de não retorno estão se fechando rapidamente.

Na foto, Eduardo Scorssato e Douglas Bastos se reúnem com o Secretário geral da CNBB para pautas do Movimento Laudato Si/ Foto: CNBB
Espiritualidade ecológica: não é opcional
Na entrevista, Eduardo destaca ainda que a espiritualidade ecológica, proposta por Francisco, “é um recurso indispensável para a transformação”. Para ele, essa espiritualidade nasce do reencontro com a criação e se traduz em compromisso, mudança de hábitos e novas formas de se relacionar — não só com a natureza, mas também entre as pessoas e com o meio ambiente urbano e social.
“A espiritualidade ecológica é um chamado a viver em comunhão — uma comunhão que é universal, com a vida humana e não humana que coabita este planeta”, explica.
COP30: "mais que negociações"
A realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia, tem, segundo Eduardo, um simbolismo profundo e uma responsabilidade enorme.
“O planeta está em um ponto crítico. A COP30 precisa ser mais do que negociações dominadas por interesses econômicos. Ela precisa estar à altura da complexidade da crise que vivemos”, alerta.
Eduardo também observa uma série de convergências simbólicas e espirituais que marcam este tempo, como os 10 anos da Laudato Si’, os 800 anos do Cântico das Criaturas, os 1700 anos do Concílio de Niceia e, no Brasil, a vivência do Sínodo para a Amazônia e da Campanha da Fraternidade sobre ecologia integral. Tudo isso reforça, segundo ele, o papel profético e mobilizador da Igreja nesse debate.
Juventudes e esperança: reconstruir relações
Ao falar de esperança, Eduardo é claro: ela não é ingênua, nem passiva. “A esperança, hoje, é uma esperança relacional. Está diretamente ligada à nossa capacidade de reconstruir vínculos — entre nós, com a criação, com o ambiente natural e o construído”, afirma.
Ele vê nas juventudes uma chave fundamental para este processo. “Nosso grande desafio é criar condições para que as novas gerações experimentem relações saudáveis e se engajem na luta pela justiça socioambiental”, diz.
A entrevista encerra com um forte chamado à ação: “A crise climática não espera. E nós, enquanto humanidade e enquanto Igreja, somos chamados a construir caminhos de esperança, comunhão e vida.”
A íntegra da entrevista está disponível nas plataformas de áudio da Rádio Amar e Servir e aqui no nosso site. Tudo está interligado. E o cuidado com a casa comum não pode esperar.