“O discernimento inaciano leva à ação comprometida com a justiça”: Ir. Pedro Gomes, SJ reflete sobre Santo Alberto Hurtado
Na memória litúrgica de Santo Alberto Hurtado, a Companhia de Jesus recorda um homem que leu os sinais de Deus nas dores do povo e continua inspirando vocações para uma fé encarnada
Por Ronnaldh Oliveira
Publicado em 18/08/2025 12:15
Jesuítas
Foto: arquivo CPAL

Celebrar Santo Alberto Hurtado é lembrar que a vida consagrada só tem sentido se nasce do encontro com Cristo e se encarna no mundo real. Na Semana da Vida Consagrada no Brasil, sua memória ilumina o chamado de todos os que desejam seguir Jesus segundo o carisma inaciano: discernir, servir e amar com radicalidade.

Nascido em 1901, no Chile, Alberto viveu desde cedo a pobreza após a morte do pai. Essa experiência não o fechou em si mesmo; pelo contrário, acendeu nele uma sensibilidade profunda para as dores dos mais vulneráveis. Como jesuíta, tornou-se advogado, pedagogo, formador de jovens, escritor e, sobretudo, profeta da caridade. Em 1944, fundou o Hogar de Cristo, abrigo que até hoje acolhe milhares de pessoas em situação de rua. Criou também a revista Mensaje e iniciativas de formação sindical e social, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja.

Para o Ir. Pedro Gomes, SJ, atual assessor de direção da Fundação F;e e Alegria,  o que mais marca a vida do santo é a capacidade de unir contemplação e ação:

“Ele não se contentou em viver uma espiritualidade fechada em si mesma; o discernimento inaciano o levou a ler o ensinhar de Deus nas dores concretas do povo... locais de encontro com Cristo sofredor, que o chamava a ser uma resposta profética.”

Irmão Pedro Gomes, SJ, atualmente reside em Belo Horizonte/MG e atua diretamente com obras sociais da Companhia de Jesus em todo o território nacional/Foto: Arquivo pessoal

 

Essa postura, segundo o irmão, não é apenas memória do passado, mas chamado urgente para hoje:

“Hurtado lembra que a missão não pode ser vivida sem encarnar-se nas dores e esperança do povo. O discernimento inaciano, se for autêntico, leva necessariamente a uma ação comprometida com a justiça... Ele me interpela a deixar que o Evangelho toque as minhas seguranças.”

Na lógica de Hurtado, ser consagrado — seja como religioso, religiosa ou leigo engajado — é abrir os olhos para os clamores concretos: os pobres sem casa, os imigrantes rejeitados, os jovens sem perspectiva, a terra ferida. É não separar oração de compromisso, fé de justiça, comunidade de missão.

Neste tempo de Semana da Vida Consagrada, sua vida provoca a Igreja a formar vocações que sejam ponte e presença, como ele mesmo desejava: “um fogo que acende outros fogos”.

 

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