Coletiva de imprensa abre 14º MUTICOM em Manaus com apelo por comunicação sustentável e defesa da Amazônia
Em coletiva nesta quinta-feira (25), na sede do evento, comissão organizadora do evento destaca a Amazônia como “banho de interconectividade”, anuncia metodologia dos “rios temáticos”, compromisso de sustentabilidade e publicação de anais com propostas concretas contra a desinformação e a favor de uma “sustentabilidade justa”.
Por Ronnaldh Oliveira
Publicado em 25/09/2025 13:22 • Atualizado 25/09/2025 15:57
Justiça Socioambiental
Membros da comissão organizadora na coletiva de imprensa/Foto: Ronnaldh Oliveira

Na manhã desta quinta-feira, 25 de setembro de 2025, às 9h (horário de Manaus), o 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (MUTICOM) foi oficialmente apresentado em coletiva de imprensa transmitida pelas redes da Arquidiocese de Manaus e pela Rádio Rio Mar. Participaram o cardeal Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da CNBB; Dom Valdir José de Castro, bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB; Dom Edilson Soares Nobre, bispo de Oeiras; Pe. Geraldo Ferreira Berdaham, coordenador de pastoral da Arquidiocese de Manaus; e Osnilda Lima, da Comissão Organizadora do MUTICOM e assessora da Comissão para a Comunicação da CNBB.

Com o tema central “Comunicação e ecologia integral: transformação e sustentabilidade justa”, o encontro se alinha aos apelos das encíclicas Laudato si’ e Laudate Deum e dialoga com a Campanha da Fraternidade deste ano, dedicada à fraternidade e à ecologia integral.

“Desejamos mostrar a importância dos meios de comunicação para nossa sociedade e fazer do MUTICOM um momento marcante na abordagem da ecologia integral, rumo a um cuidado cada vez maior da casa comum”, afirmou Dom Leonardo Steiner na abertura.

Amazônia como “banho” de interconexões

Questionado sobre os frutos esperados do MUTICOM, Dom Valdir José de Castro destacou que Manaus oferece o lugar certo para pensar comunicação e meio ambiente em chave integrada:

“O que eu espero é um banho de Amazônia — compreender a interconectividade que acontece aqui. Tudo está interligado, como diz o Papa, mas nem sempre tudo está comunicado. Saímos para aplicar essa experiência nas dioceses, nas paróquias e nos regionais, com ações concretas de ecologia integral, também nos contextos urbanos e periféricos.”

Ele lembrou que a degradação ambiental anda de mãos dadas com a degradação humana, reforçando a necessidade de políticas comunicacionais e pastorais que toquem a vida cotidiana.

Membros da comissão organizadora que compuseram a mensa da Coletiva de Imprensa/foto: Ronnaldh Oliveira

“Tirem as mãos da Amazônia”: denúncia e horizonte de fraternidade

Em respostas que relacionaram comunicação, território e vulnerabilidade, Dom Leonardo retomou o impacto de um “sistema econômico que se impõe”, pressionando terras e populações, e lançou uma imagem forte:

“Às vezes eu gostaria de repetir as palavras do Papa quando esteve na África: tirem as mãos da Amazônia. Se queremos ecologia integral, o horizonte não pode ser o do mercado, mas o da fraternidadee das relações harmônicas.”

Dom Edilson convergiu:

“Não existe ecologia integral se ignorarmos as pessoas vulneráveis. Essa compreensão obriga a olhar a vida como um todo e a colocar os pobres no centro da atenção.”

Metodologia dos “rios temáticos” e escuta sinodal

Osnilda Lima apresentou a metodologia dos “rios temáticos” — inspirada na circularidade da palavra e na escuta profunda do Sínodo — que garante participação ampla de agentes de pastoral, comunicadores populares, pesquisadores, povos originários e pastorais do campo:

“Queremos que este seja um processo: foi construído desde 2023 e seguirá após o encontro. Teremos sínteses de cada rio temático, rodas de conversa e espaço real de fala e aprendizagem mútua.”

A programação prevê missa de abertura, painéis com profissionais e acadêmicos, os 12 rios temáticos à tarde, visitas imersivas no sábado a comunidades e regiões missionárias da Arquidiocese e o encerramento no Encontro das Águas (Rio Negro e Solimões), simbolizando a convergência dos saberes.

Compromisso de sustentabilidade do evento

Em entrevista exclusiva à Rádio Amar e Servir, Dom Edilson Nobre detalhou as boas práticas ambientais no próprio MUTICOM:

“Temos a preocupação de não sermos contraditórios. Kit com material reciclado, ambientação com reusoe coleta e reciclagem das garrafas de água — onde não encontramos solução plena, mitigamos com logística de recolhimento.”

Ele também anunciou a produção de subsídios pós-evento:

“Além de uma cartilha já disponível no site do MUTICOM, teremos os anais: cada rio temático terá relatores para consolidar as proposições num e-book acessível a comunicadores populares, estudantes e agentes de pastoral, para que as diretrizes cheguem às bases.”

Comunicação sociotransformadora em chave amazônica

Na coletiva, a relação entre comunicação e justiça socioambiental foi reiterada. A partir de experiências recentes e da Assembleia do CIMI, Dom Leonardo reforçou que a defesa de territórios e povos exige comunicação que desvele estruturas:

“Se quisermos ecologia integral, precisamos desmontar um sistema que se impõe há quase dois séculos. O MUTICOM pode ajudar a despertar para essa responsabilidade — não só ambiental, mas das nossas relações, hoje muito fracionadas.”

Dom Valdir ampliou ao urbano:

“A ecologia integral também está nos prédios, nos córregos poluídos, nas periferias. É onde a comunicação precisa fazer ponte entre evangelho, políticas públicas e cotidiano.”

A Amazônia que comunica: sinodalidade, diversidade e espiritualidade

Em outra exclusiva à Rádio Amar e Servir, Dom Leonardo descreveu o “idioma” da Amazônia:

“A Amazônia comunica ecologia integral, fraternidade, diversidades culturais e uma Igreja participativa, sinodal e samaritana. Queremos comunicar melhor de modo integrado, congregando as pessoas para cuidar da casa comum a partir do Evangelho.”

Ele retomou Querida Amazônia e a ideia de hermenêutica da totalidade:

Integral é todos pensando e todos na receptividade do cuidado do todo — inclusive dos pobres e povos originários, frequentemente desconsiderados. Somos sempre seres em relação; comunicação é expressão de profunda comunhão.”

Vozes, perguntas e objetivos

Ao abrir as perguntas, a Rádio Amar e Servir (Jesuítas do Brasil) questionou os frutos esperados para a prática comunicacional nas bases. A resposta dos bispos convergiu para três objetivos operacionais:

  1. Aplicação local imediata: levar aprendizados aos regionais, dioceses e paróquias, com foco em ações concretas;

  2. Formação continuada: reforçar processos, não apenas um evento, com materiais acessíveis e e-book de diretrizes;

  3. Ampliação de repertório: integrar experiências populares, saberes indígenas e academia para uma comunicação sociotransformadora, crítica e dialogal.

Serviço | Programação resumida

  • Quinta (25.set): Coletiva; 17h missa de abertura; mesa de honra; noite cultural.

  • Sexta (26.set): Momento de espiritualidade; painéis de manhã; 12 rios temáticos à tarde.

  • Sábado (27.set): Painéis de manhã; 12 rios temáticos à tarde; visitas imersivas a comunidades e regiões missionárias da Arquidiocese de Manaus.

  • Domingo (28.set): Encerramento no Encontro das Águas (Rio Negro e Solimões), símbolo da convergência dos saberes construídos.

Pós-evento: Publicação de e-book/anais com sínteses dos rios temáticos, palestras e proposições, para circulação nacional.

Comentários