COP30 marca virada para a implementação da agenda da natureza
Novos mecanismos financeiros, bioeconomia e cooperação global reforçam a proteção da biodiversidade e o protagonismo comunitário
Por Felipe Moura
Publicado em 18/11/2025 11:33
COP 30
17.11.2025 - Belém - O Secretário Executivo da UNFCCC, Simon Stiell, participa da Plenária de Abertura de Alto Nível da 30ª Conferência das Partes (COP30). Foto de Ueslei Marcelino/COP30

A segunda-feira (17/11) consolidou uma virada prática dentro da COP30: após anos de debates sobre ambição climática, países e parceiros apresentaram medidas concretas para colocar a natureza no centro das decisões. O dia foi marcado pela operacionalização de novos fundos, fortalecimento da governança indígena, mobilização de investimentos bilionários e protagonismo das juventudes e comunidades tradicionais.

No centro da agenda esteve a consolidação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), apontado como o maior mecanismo de financiamento florestal do mundo. Com apoio do Brasil, RDC, China, Colômbia, Guiana, Noruega e Reino Unido, o fundo inaugura um modelo híbrido — público e privado — que privilegia investimentos de longo prazo e acesso direto de comunidades. Uma inovação é a Alocação Financeira Dedicada (TFFF-DFA), que destina no mínimo 20% dos pagamentos florestais para povos indígenas e comunidades locais.

A perspectiva comunitária ganhou força também na Reunião Ministerial sobre Florestas e Povos Indígenas, que discutiu como experiências de governança territorial, como o Mecanismo de Subsídios Dedicados (DGM), podem orientar novos modelos de financiamento climático inclusivo. “Os USD 05 bilhões de capital são um ótimo começo”, afirmou Daniel Hanna, do Barclays, destacando a ambição crescente do TFFF.

Outro marco do dia foi o anúncio de que mais de 30 governos e fundações ultrapassaram, com um ano de antecedência, o compromisso de USD 01,7 bilhão firmado na COP26 para povos indígenas e comunidades locais. Paralelamente, 14 países endossaram o primeiro Compromisso Intergovernamental Global de Posse da Terra, que pretende fortalecer direitos territoriais em mais de 160 milhões de hectares, sendo 59 milhões apenas no Brasil.

Bioeconomia e investimentos para a natureza ganham escala

 

A COP30 também marcou o lançamento do Global BioChallenge, iniciativa que transforma os 10 Princípios de Alto Nível da Bioeconomia, lançados pelo Brasil no G20, em ações concretas até 2028. A ministra Marina Silva destacou o potencial da bioeconomia como motor de prosperidade e justiça social.

Outro movimento relevante veio com a criação da Coalizão para Ampliar o JREDD+, que reúne governos tropicais, grupos indígenas e organizações de mercado de carbono para financiar reduções jurisdicionais de desmatamento. A coalizão apoia o Roteiro de Financiamento Florestal, que busca fechar um déficit anual estimado em USD 66,8 bilhões para a proteção de florestas tropicais.

Além disso, o Motor de Investimento na Terra superou a meta inicial e já mobilizou mais de USD 10 bilhões para projetos brasileiros de florestas e bioeconomia até 2027, demonstrando uma demanda crescente por soluções baseadas na natureza.

Prevenção de incêndios e agricultura regenerativa avançam

 

Na agenda de gestão do fogo, o Brasil apresentou o caminho para implementar o Centro Global de Gestão de Incêndios, sediado pela FAO e apoiado pelo Chamado à Ação de Belém. Até 2028, mais de 10 milhões de hectares devem ser manejados com práticas integradas de prevenção, combinando dados, sistemas de alerta, conhecimento indígena e formação de profissionais.

Já a iniciativa Paisagens Regenerativas, vinculada à Agenda de Ação da COP, anunciou USD 09 bilhões em investimentos para agricultura sustentável, restauração e conservação — quadruplicando os aportes desde a COP28. Mais de 210 milhões de hectares estão contemplados, com efeitos diretos em 12 milhões de agricultores.

Metano: relatório global reforça urgência

 

O novo Relatório Global sobre a Posição do Metano 2025 mostrou que ações setoriais já vêm reduzindo a projeção global de emissões, mas alertou que os próximos cinco anos serão decisivos para manter o limite de 01,5°C viável. Medições robustas, financiamento e implementação imediata de tecnologias já disponíveis foram apontadas como essenciais.

 

Vozes indígenas e juventudes fortalecem a governança climática

O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos bispos e cardeais do Sul Global presentes na COP, reforçando a responsabilidade comum de proteger a criação: “Ignorá-las é negar nossa humanidade comum”.

Na Blue e na Green Zone, a juventude esteve no centro de diálogos. A campeã climática Marcele Oliveira reuniu crianças e jovens no encontro “Do Escutar à Ação”, que terminou com um manifesto de jovens indígenas por água limpa, proteção de rios e respeito à vida. Em outra sessão, líderes globais participaram de um diálogo intergeracional para discutir políticas que protejam crianças e futuras gerações.

No Pavilhão Indígena, representantes do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (CIMC) — como Jânio Avalo, Suhyasun Pataxó, Sineia do Vale e Cristiane Julião — apresentaram experiências de adaptação desenvolvidas em diferentes territórios, especialmente em Roraima, destacando a centralidade do conhecimento ancestral na construção de soluções climáticas.

O que esperar do Dia 09

A agenda de terça-feira seguirá com foco em florestas, oceanos, biodiversidade, povos indígenas, juventudes e pequenos e médios empreendedores. Entre os destaques estão:

10h30–12h00 – Evento Ministerial de Alto Nível sobre compromissos oceânicos

10h30–12h00 – Conexões entre as agendas da COP16 e COP30

11h00–12h00 – PMEs no centro da ação climática

14h30–16h00 – Avaliação Ética Global

14h30–16h00 – Lançamento da Aliança para Implementação dos Planos Nacionais de Adaptação

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