São Paulo (SP) — O Centro MAGIS Anchietanum, promoveu nos dias 10 e 11 de outubro o Fórum Econômico e Socioambiental das Juventudes, um encontro inédito que reuniu jovens, pesquisadores e representantes da Companhia de Jesus para discutir a ecologia integral à luz da Laudato Si’ e da preparação para a COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).
Com o tema “Ecologia Integral: por uma economia a serviço da vida e do futuro das juventudes”, o fórum buscou fomentar um espaço de formação e diálogo, aproximando as juventudes das grandes pautas socioambientais contemporâneas.
“Espaço para discutir a partir da base”
Na abertura, o Pe. Edson Tomé Pacheco Silva, SJ, diretor do Centro MAGIS Anchietanum e secretário para Juventude e Vocações da Província dos Jesuítas do Brasil, destacou que o evento é um esforço coletivo da Companhia de Jesus para aprofundar, na base, as pautas que serão levadas à COP30.
“Como Companhia de Jesus, queremos oportunizar espaços de discussão e aprofundamento acerca das principais pautas que levaremos também para a COP30, compreendendo-as com as juventudes. É um momento de escuta, de formação e de diálogo a partir da base, das realidades concretas de cada território”, afirmou o jesuíta.
Tomé também recordou a inspiração espiritual do evento, lembrando o Círio de Nazaré, que neste ano tem como tema “Maria, Mãe e Rainha de toda a Criação”, e a dimensão teológica da criação:
“Por mais que esse tema, às vezes, cause estranhamento, é muito importante falarmos da casa comum. Deus, como Criador, nos deu tudo isso para melhor vivermos”, pontuou.
Juventudes e novas redes de esperança
Para David Cordeiro da Silva, coordenador de Pastoral do Centro MAGIS Anchietanum, o fórum é também um símbolo de esperança e mobilização.
“É uma alegria muito grande tratar de um tema tão relevante na sociedade atual, especialmente diante da COP30 no Brasil e dos 10 anos da Laudato Si’. Este fórum nos permite construir pontes e novas redes, num momento emblemático para a Igreja e para o mundo”, afirmou.
Segundo David, o encontro se estruturou em três grandes pautas estratégicas propostas pela Companhia de Jesus para o debate climático global: o cancelamento da dívida externa dos países em desenvolvimento, o financiamento climático para energias renováveis e a transição para sistemas alimentares sustentáveis.
Mesa-redonda: as causas da crise ética socioambiental
O ponto alto do primeiro dia foi a mesa-redonda “As causas da crise ética socioambiental”, mediada pela equipe do Anchietanum, com as participações de Natália Lima Maia, engenheira ambiental humanizada e integrante da Fundação Avina; Pe. Élio Gasda, SJ, professor de Teologia Moral Social na FAJE; e Gilberto Natalini, médico e ambientalista.
Natália destacou a gravidade da crise climática e alertou para a aceleração dos chamados “cenários extremos”, já observados no planeta.
“O aumento máximo de 1,5°C na temperatura global, definido no Acordo de Paris, já foi atingido. Vivemos agora os extremos climáticos, o ponto de não retorno. Precisamos olhar para as Amazônias — plurais, vivas e compostas por pessoas — e compreender que cada território tem sua voz e sua dor”, disse.

Gilberto Natalini, de forma presencial, dialoga com os presentes no Centro MAGIS Anchietanum e com os conectados via plataforma/ foto: Ronnaldh Oliveira
O Pe. Élio Gasda, SJ, trouxe uma análise ética e estrutural da crise, apontando o capitalismo como causa principal da degradação socioambiental.
“Não é toda a humanidade que contribui igualmente para a crise. O fator determinante é a expansão de um sistema econômico que explora a terra e as pessoas. A raiz da crise é humana, mas profundamente marcada pela lógica do capital”, enfatizou o teólogo.
Em sua exposição, Gilberto Natalini reforçou a urgência de mudanças nos padrões de consumo e de produção.
“A Mãe Terra chegou ao limite. Estamos num estágio de exaustão, em que não conseguimos mais oferecer nem receber da natureza. Se não mudarmos, o planeta continuará girando, mas sem nós”, alertou.

Rafaela Veccia (a primeira, da esquerda para a direita) e outras duas antigas alunas do Colégio Anchieta, vieram de Porto Alegre para participar do Fórum. / Foto: Ronnaldh Oliveira
Um protagonismo que floresce
O evento também reuniu jovens de diferentes regiões do país. Rafaela Vecchia, do Espaço MAGIS Anchieta de Porto Alegre, destacou a importância de unir prática e formação:
“Acredito que o fórum vai nos ajudar a absorver novas perspectivas e colocá-las em prática nas nossas comunidades. É um espaço de aprendizado mútuo e de esperança.”
Para Alessandra Custódio, gerente do Centro MAGIS Anchietanum, a presença dos jovens é um sinal de vitalidade e compromisso.
“Eles acendem em nós a esperança. Nos pequenos gestos — como apagar a luz ou cuidar da água — mostram que é possível transformar o mundo. As grandes mudanças começam nas pequenas atitudes”, refletiu.
Ela antecipou que, ao final do encontro, será redigida uma carta de compromisso das juventudes e lançadas ações concretas de sustentabilidade no próprio Centro, como a revitalização dos jardins e a redução de impressões e descartes.
Uma dança pela Casa Comum
O primeiro dia foi encerrado com uma dança circular orante, conduzida por Rachel Omoto, assessora de projetos de vida e certificada em danças circulares.
“A vida é uma dança cósmica”, recordou Rachel, citando Ailton Krenak. “Quando dançamos em círculo, todos estamos à mesma distância do centro — ninguém é mais importante que ninguém. É um gesto de comunhão, de reverência à vida e de reconexão com a Terra.”
O momento foi marcado por música, contemplação e partilha, simbolizando o espírito do Fórum: tudo está interligado.