As negociações da COP30 foram retomadas nesta sexta-feira (21) em Belém (PA), após a suspensão provocada pelo incêndio de um dos pavilhões da Zona Azul no dia anterior. Mas, mesmo com a volta das delegações às mesas de negociação, o cenário é de incerteza: a conferência pode terminar sem qualquer referência ao abandono dos combustíveis fósseis ou ao combate ao desmatamento, temas vistos como centrais por boa parte dos países.
A nova minuta do chamado Decisão Mutirão, divulgada pela presidência da conferência, tenta equilibrar posições e avançar em temas como financiamento e metas climáticas. No entanto, a ausência de linguagem sobre combustíveis fósseis — considerados a principal fonte da crise climática — e sobre o fim do desmatamento gerou forte frustração entre países que defendem maior ambição.
Apesar das reiteradas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou a Belém na quarta-feira (19) reforçando a necessidade de que a COP30 trace uma rota clara para o fim dos combustíveis fósseis, alguns países mantiveram posição contrária. Entre eles estão Arábia Saudita, Índia e Rússia, que consideram “inaceitável” qualquer menção aos fósseis sem garantias financeiras concretas dos países desenvolvidos.
Colômbia lidera bloco que exige referência explícita aos fósseis
Na direção oposta, a Colômbia tem assumido a liderança de um movimento que considera impossível fechar a COP30 sem abordar diretamente a transição energética. Segundo o governo colombiano, não há acordo possível se o texto final ignorar os combustíveis fósseis.
O impasse se transformou numa disputa explícita de “linhas vermelhas”: ambos os grupos definiram o mesmo ponto como inegociável, mas em sentidos opostos — travando qualquer consenso.
Carta de 40 países afirma que proposta é “inaceitável”
Na noite de quinta-feira, 40 países enviaram uma carta ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmando que o texto atual “não oferece as condições mínimas para um resultado crível”. O grupo declarou: “Não podemos apoiar um resultado que não inclua um mapa do caminho para uma transição justa, ordeira e equitativa para longe dos combustíveis fósseis”.
A carta também critica a ausência de encaminhamentos globais sobre desmatamento, especialmente sensível em uma COP sediada na Amazônia. O texto afirma que “esperar menos para acomodar países relutantes” não condiz com a liderança climática esperada.
Entre os signatários estão europeus como Áustria, Dinamarca, Alemanha, Espanha e Reino Unido; latino-americanos como Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Panamá; além de Tuvalu, Vanuatu, Ilhas Marshall, Quênia e Coreia do Sul.
Declaração de Belém e anúncio de nova conferência
Em coletiva realizada nesta manhã, a Colômbia, com o apoio de cerca de 08 dezenas de países, ampliou a pressão ao lançar a Declaração de Belém. O grupo também anunciou uma conferência internacional em 2026, na cidade colombiana de Santa Marta, dedicada a discutir estratégias para uma transição justa e acelerada longe dos combustíveis fósseis.
O objetivo é criar um espaço paralelo às COPs, reunindo nações dispostas a avançar independentemente das resistências internas às negociações multilaterais. Mesmo assim, o bloco reforçou que espera uma orientação clara também no texto final da COP30.
Com posições cada vez mais distantes, a COP30 avança para sua reta final sob forte pressão política — e sob o risco de encerrar a conferência sem mencionar justamente os dois temas que mais simbolizam os desafios climáticos do século XXI: fósseis e desmatamento.