A missão jesuíta na COP30 ganhou um novo capítulo na manhã desta quinta-feira, dia 20 de novembro, quando o reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Padre Anderson Pedroso, SJ, entregou ao presidente da Conferência, André Aranha Corrêa do Lago, uma carta oficial com os principais apelos da Companhia de Jesus para esta COP. O gesto, realizado no Dia 11 do evento, integra a campanha internacional “Jesuítas pela Justiça Climática: Fé em Ação na COP30”, que mobiliza jesuítas e colaboradores em todo o mundo.
O documento apresentado ao presidente é resultado de um trabalho coletivo da delegação jesuíta em Belém, composta por 29 integrantes de 14 países, que atuaram ao longo das duas semanas da Conferência dentro e fora da Zona Azul, incluindo participação em eventos paralelos e na Cúpula dos Povos. Essa diversidade de olhares e experiências reforça o peso do posicionamento entregue à Presidência.
Um alerta firme sobre a insuficiência da resposta global
Na carta, a Companhia de Jesus expressa preocupação com a possibilidade de que a comunidade internacional não esteja respondendo com a urgência necessária à atual emergência climática. O texto lembra que a ciência disponível é inequívoca: manter a meta de limitar o aquecimento global a 01,5°C exige medidas mais ambiciosas e um compromisso real dos países.
A delegação destaca ter recebido com esperança o discurso inaugural do presidente da COP30, que classificou esta como a “COP da implementação, da adaptação e da verdade”, e afirma que é justamente nesse espírito que apresenta suas recomendações.
Três caminhos para uma implementação justa
A carta enumera três solicitações centrais, consideradas essenciais para garantir que as decisões desta COP30 atendam às populações que mais sofrem com as mudanças climáticas:
01. Criar um mecanismo robusto no Programa de Trabalho para Transição Justa, com financiamento baseado em subsídios, evitando novas dívidas aos países em desenvolvimento.
02. Estruturar um processo claro e transparente para a implementação e operação do Fundo de Perdas e Danos, assegurando que os recursos cheguem aos países mais pobres.
03. Promover uma reforma profunda da Arquitetura Financeira Global, incluindo o cancelamento de dívidas relacionadas ao clima.
Uma convocação à coragem
A carta conclui reafirmando a confiança dos jesuítas no papel da Presidência da COP30 para alcançar resultados reais e cita as palavras do Papa Leão XIV: é preciso “assumir as lutas e conquistas das gerações passadas, mirando ainda mais alto”, com bondade, justiça e solidariedade.
Assinado pelo Pe. Roberto Jaramillo, SJ, diretor do Secretariado para Justiça Social e Ecologia da Companhia de Jesus, o documento reflete o compromisso da Ordem com a justiça climática e o bem comum.
Com a entrega do texto, a Companhia de Jesus reforça seu chamado por ações concretas, coordenadas e financeiramente justas — um lembrete de que as decisões tomadas em Belém terão impacto direto sobre a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Confira a carta na íntegra:
Belém do Pará, 19 de novembro de 2025
Sr. André Aranha Corrêa do Lago
Presidente da COP30
Prezado Presidente da COP30,
À medida que a COP30 se aproxima do fim, a Companhia de Jesus (Jesuítas) deseja humildemente fazer o possível para comunicar aquilo que esperamos desta Conferência, com base em nossa experiência de acompanhamento das comunidades nos territórios. Ficamos encorajados, senhor Presidente, por seu discurso de abertura, no qual o senhor nos assegurou que esta seria a COP da implementação, a COP da adaptação e, acima de tudo, a COP da verdade.
Nas últimas duas semanas, a delegação Jesuits for Climate Justice na COP30 contou com 29 jesuítas e colaboradores leigos de 14 países, que participaram não apenas da Zona Azul, mas também de eventos paralelos dentro e fora do local oficial da Conferência, inclusive na Cúpula dos Povos.
Estamos extremamente preocupados com a possibilidade de a humanidade não conseguir responder ao desafio colocado pela atual emergência climática neste momento crucial. Não apenas somos amparados por nossa proximidade com comunidades em todos os continentes, como também pela melhor ciência disponível, que exige maior ambição nas medidas que a COP deve adotar para manter a meta de limitar o aquecimento global a 01,5°C acima dos níveis pré-industriais. É neste espírito que apoiamos integralmente a construção de um roteiro claro e prático para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, conforme vem sendo sugerido pelos países nestes dias.
Por isso, solicitamos respeitosamente que, na qualidade de presidente da COP30, o senhor impulsione medidas que respondam às necessidades urgentes daqueles que mais sofrem:
01. Garantir que o Programa de Trabalho para Transição Justa estabeleça um mecanismo capaz de oferecer apoio previsível e instrumentos financeiros baseados em subsídios e que não gerem endividamento para os países em desenvolvimento, em vez de iniciativas fragmentadas.
02. Estabelecer um caminho claro para o fortalecimento, a implementação e a operação transparente do Fundo de Perdas e Danos, assegurando que os recursos sejam utilizados pelos países pobres e em desenvolvimento.
03. Assegurar uma reforma da Arquitetura Financeira Global que inclua o cancelamento de dívidas relacionadas ao clima.
Depositamos nossa confiança em sua Presidência e no espírito significativo de mutirão para conduzir esta Conferência a resultados que realmente atendam às populações mais vulneráveis à mudança do clima. Assim, como disse o Papa Leão XIV, é vital que o senhor “assuma as lutas e conquistas das gerações passadas, mirando ainda mais alto. Esse é o caminho. A bondade, junto com o amor, a justiça e a solidariedade” (LS 34).
Em nome da Delegação Jesuits for Climate Justice,
Atenciosamente,
Pe. Roberto Jaramillo, SJ
Diretor do Secretariado para Justiça Social e Ecologia – Companhia de Jesus