A poucos meses da realização da COP30 em Belém (PA), cresce a expectativa em torno da presença das juventudes e dos povos da Amazônia como protagonistas nas pautas climáticas. Para entender o que pulsa nos territórios e como os jovens têm se envolvido com o cuidado da Casa Comum, a Rádio Amar e Servir conversou com o padre jesuíta Silas Silva, diretor do Centro MAGIS Amazônia, sediado em Manaus.
“A juventude amazônica está mostrando que justiça climática começa no território, com ações concretas e com resistência cotidiana. Eles têm nos ensinado mais do que aprendido”, afirma o padre.
Com uma trajetória marcada pelo acompanhamento pastoral de jovens ribeirinhos, urbanos, indígenas e periféricos, Pe. Silas compartilha que há uma consciência crescente entre os jovens, especialmente os mais vulneráveis, de que cuidar da Amazônia é uma questão de sobrevivência, identidade e fé.
Mochilaço, rodas de conversa e espiritualidade ecológica
Entre as atividades promovidas pelo Centro MAGIS estão rodas de conversa inspiradas pela Laudato Si’ e pelo filme A Carta, além do projeto Mochilaço Jovem, que convida os jovens a uma peregrinação crítica por espaços da floresta e das áreas urbanas, onde os impactos ambientais se mostram mais visíveis.
“Passamos por locais onde a mata foi devastada, onde o lixo toma conta das margens dos igarapés. Essa experiência provoca uma mudança interior”, explica o jesuíta.
Ele destaca também como a espiritualidade inaciana, com seu chamado à conversão ecológica, ajuda os jovens a discernirem e ordenarem os afetos em vista do bem comum.
“Converter-se é deixar que as coisas continuem sendo boas, assim como Deus as criou. Isso inclui o cuidado com os rios, com os corpos, com o território e com a vida.”
[Seção 3] Desafios e esperanças: juventude como força vital da Amazônia
Apesar da força juvenil, os desafios são grandes. Falta de acesso à educação superior, precariedade digital, violência, narcotráfico e racismo ambiental são algumas das realidades que afetam os jovens da região.
“Mesmo assim, encontramos uma juventude que deseja viver, transformar o mundo e cuidar da vida com alegria e dignidade.”
O padre destaca a potência dos coletivos culturais, das redes indígenas organizadas e dos jovens que constroem espaços alternativos de resistência. Ele cita o Acampamento Terra Livre como um dos maiores exemplos de mobilização e perseverança juvenil.
COP30 e a urgência de escutar a juventude amazônica
Com a COP30 se aproximando, o jesuíta faz um apelo:
“O caminho até a COP30 passa por Belém, sim. Mas passa, sobretudo, pelos territórios onde os jovens constroem alternativas concretas de cuidado, espiritualidade e resistência.”
Para Pe. Silas, não basta defender a Amazônia com discursos. É preciso escutá-la, amá-la e garantir que suas juventudes sejam protagonistas no debate climático.
“A juventude amazônica ensina com o corpo, com o silêncio, com o canto. Ensina que cuidar não é moda, é sobrevivência.”