COP30 começa em Belém destacando adaptação e tecnologia como caminhos para a ação climática
Primeiro dia da conferência marca o início de uma agenda global voltada a soluções concretas para enfrentar a crise climática, com foco em inovação, justiça social, cooperação internacional e presença ativa da Companhia de Jesus nas zonas azul e verde
Por Felipe Moura
Publicado em 10/11/2025 21:12
COP 30

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) teve início nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), com um forte apelo à adaptação e à inovação tecnológica como pilares para enfrentar a crise climática. A conferência marca os dez anos do Acordo de Paris, em um momento em que acelerar a implementação dos compromissos e conectar as metas climáticas à vida das pessoas se torna urgente.

O primeiro dia da COP foi dedicado a temas como adaptação, cidades, infraestrutura, água, resíduos, bioeconomia, economia circular, ciência e inteligência artificial. Entre os principais anúncios, destacou-se o lançamento de novas ferramentas e modelos de financiamento para transformar planos de adaptação em projetos escaláveis, além de um pacote bilionário de apoio à inovação agrícola voltado a agricultores de regiões vulneráveis.

Também foi inaugurado o Green Digital Action Hub, plataforma global para impulsionar a transformação digital sustentável, e anunciado o AI Climate Institute, voltado à formação de profissionais e pesquisadores em aplicações de inteligência artificial para o clima.

Durante o dia, autoridades e representantes de bancos multilaterais, governos e organizações internacionais participaram de painéis e mesas de alto nível sobre combate à fome e pobreza, fortalecimento da agricultura familiar e uso da tecnologia em prol de um futuro digital verde.

Presença jesuíta nas zonas azul e verde

A Companhia de Jesus marca presença ativa nas zonas Azul e Verde da COP30, representando o compromisso global da ordem com a justiça socioambiental e o cuidado com a Casa Comum. Entre as participantes, Beatriz de Sá, da Federação Internacional Fé y Alegría, destacou-se por sua atuação nos debates voltados às comunidades periféricas e à educação popular, como o painel “Periferias e Justiça Climática”, realizado no auditório Sumaúma, que reuniu lideranças comunitárias, pesquisadores e representantes de governos. O encontro destacou que a justiça climática “não é algo do futuro — é do agora”, reforçando o papel das juventudes e das periferias como protagonistas na construção de soluções para a crise climática.

Segundo Beatriz, “as periferias são espaços de potência, inovação e esperança. O que estamos construindo no Brasil pode — e deve — inspirar outros países do Sul Global.”. Ela também comentou sobre sua participação na COP: “Trago comigo as vozes das juventudes e o compromisso da nossa federação com a justiça socioambiental, o cuidado com a Casa Comum e a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos.”

Um dos momentos marcantes foi a assinatura do programa Periferias Verdes, que une os Ministérios das Cidades e do Meio Ambiente em ações baseadas na natureza e na formação de Agentes do Clima. Também foi lembrada a importância de iniciativas como o programa Periferia Viva, que demonstram como governos, comunidades e organizações podem se unir pela transformação urbana e ambiental.

 

Falas do dia

Na cerimônia de abertura, o Secretário Executivo de Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell, afirmou que o mundo vive hoje o futuro projetado em Paris, há dez anos e que, embora haja avanços, “ainda temos muito mais trabalho a fazer”. Ele destacou que lamentar não é uma estratégia e convocou os países a cooperarem com coragem e determinação: “Nesta arena da COP30, seu trabalho não é lutar uns contra os outros, mas lutar juntos contra essa crise. ”

Em seguida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu oficialmente a conferência com um discurso de tom político e ético, defendendo a COP30 como “a COP da Verdade”. Lula afirmou que “os obscurantistas rejeitam as evidências da ciência e semeiam o ódio”, e que “é momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”.

O presidente reforçou que trazer a COP para a Amazônia foi um gesto simbólico e necessário: “Quem só vê a floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra. ” Segundo ele, a conferência deixará “legados concretos” para Belém e mostrará ao mundo a realidade amazônica.

Lula apresentou ainda o Chamado à Ação de Belém, documento que sintetiza os compromissos brasileiros para o futuro climático global, incluindo medidas de manejo do fogo, regularização fundiária para povos indígenas e incentivo à agricultura familiar. “A crise climática é também uma crise de desigualdade”, declarou, defendendo uma transição justa e inclusiva.

Com o mundo reunido na Amazônia, a COP30 se apresenta como um marco de esperança e responsabilidade global — um espaço para transformar promessas em ação concreta e reafirmar o papel da Amazônia no centro da resposta climática do planeta.

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