Jesuítas iniciam participação na COP30 com presença ativa nos espaços de diálogo e incidência em Belém
Pe. Roberto Jaramillo, SJ, chefe da Secretaria de Justiça Social e Ecologia (SJES) destaca o engajamento da Companhia de Jesus na defesa da Casa Comum e na busca por alianças globais pela justiça socioambiental
Por Felipe Moura
Publicado em 11/11/2025 12:50
COP 30

Belém (PA) – A presença da Companhia de Jesus marcou o primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que começou na segunda-feira (10) em Belém (PA). A delegação jesuíta, em sintonia com a campanha Jesuítas pela Justiça Climática: Fé em Ação na COP30, está distribuída entre os principais espaços da conferência — da Zona Azul à Zona Verde, além da Cúpula dos Povos, do Tapiri Ecumênico, da Universidade Federal da Amazônia e do espaço Igreja na COP30, reafirmando o compromisso da Ordem com o diálogo, a incidência política e o cuidado com a Casa Comum.

Segundo o Pe. Roberto Jaramillo, SJ, chefe da Secretaria de Justiça Social e Ecologia (SJES) da Companhia de Jesus, o primeiro dia foi dedicado ao reconhecimento dos diversos espaços e à integração entre os membros da comitiva internacional.

“No primeiro dia da COP30, fizemos um reconhecimento dos diversos espaços da Zona Azul, da Zona Verde, dos espaços da Cúpula dos Povos, do Tapiri Ecumênico, da Universidade Federal da Amazônia e da Igreja na COP30. Esses são espaços públicos fora da Zona Azul, onde há possibilidade de participação em palestras, discussões e mesas-redondas”, afirmou.

O jesuíta destacou que seis ou sete representantes da Companhia de Jesus já atuam dentro da Zona Azul, com perfis variados — desde a incidência política até o campo científico, em temas como recursos hídricos, geleiras e desmatamento. Ele ressaltou que, nos próximos dias, o foco também se voltará para as questões financeiras e os mecanismos de financiamento climático. “Na Zona Azul, uma das tarefas mais importantes é estabelecer contatos com instituições e organizações — não só da Amazônia, mas do mundo todo — que possam somar esforços conosco, ou com as quais possamos colaborar, nessa missão de defender e promover os direitos da natureza, e de cuidar e proteger a Casa Comum”, acrescentou Pe. Jaramillo.

A participação dos jesuítas brasileiros também se destacou nos espaços de escuta e articulação regional. O Pe. Jean Fábio Santana, SJ, secretário para a Promoção da Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil, relatou sua experiência no primeiro dia da conferência:

“Minha primeira agenda aqui de atividades no contexto da COP30 foi em uma mesa organizada pela Repam, que, no primeiro grupo, reuniu lideranças de vários estados da região Norte. A mesa tratou justamente das realidades enfrentadas nos seus territórios no contexto da justiça socioambiental. No segundo momento, a discussão abordou o lugar da Repam, da Igreja cristã e da Igreja católica no contexto da COP30 — compreender essa presença como um espaço de ação profética, de ser uma presença e uma fala proféticas neste tempo de COP30”, afirmou.

Tecnologia e solidariedade marcam abertura da COP30

Enquanto a delegação jesuíta se articula e se insere nas discussões, a COP30 começou com avanços concretos e sinais de consenso global. Em um raro acordo, as Partes aprovaram a agenda oficial logo no primeiro dia, reforçando a confiança no multilateralismo e o compromisso com a implementação do Acordo de Paris.

A eleição do diplomata brasileiro André Corrêa do Lago como presidente da conferência reforçou o protagonismo do país na condução de uma COP voltada à implementação, inovação e inclusão. “Esta é uma COP da implementação”, afirmou Ana Toni, CEO da COP30, ao anunciar o lançamento do primeiro edital do Fundo de Resposta a Perdas e Danos, com USD 250 milhões destinados a países mais vulneráveis.

A tecnologia foi um dos eixos centrais do dia. Foram lançadas iniciativas como o Green Digital Action Hub — uma plataforma global sediada no Brasil para soluções tecnológicas verdes — e o AI Climate Institute, voltado à capacitação de países do Sul Global no uso de inteligência artificial para ações climáticas. Também foi apresentado o Nature’s Intelligence Studio, com sede em Belém, que utilizará a biodiversidade amazônica como fonte de inspiração para inovação sustentável.

Na Mostra de Inovação Agrícola, o Brasil, os Emirados Árabes Unidos e a Fundação Gates anunciaram US$ 2,8 bilhões para fortalecer sistemas alimentares e apoiar a adaptação de agricultores a eventos climáticos extremos. Um dos destaques foi o primeiro modelo de IA de código aberto voltado à agricultura, com o objetivo de beneficiar 100 milhões de produtores até 2028.

Os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento também anunciaram US$ 26 bilhões para adaptação em economias emergentes e novos mecanismos de financiamento da natureza. Já a campanha Corrida pela Resiliência celebrou impacto positivo em 437 milhões de pessoas em 164 países.

A mobilização social teve papel expressivo na Zona Verde, onde jovens ativistas enfatizaram a importância da participação popular. “Esta é a COP com a maior presença de crianças e jovens dos últimos três anos. Belém simboliza nossa capacidade de unir forças e mobilizar para enfrentar a mudança do clima”, afirmou a jovem brasileira Mikaelle Farias.

O primeiro dia encerrou-se com um sentimento de otimismo e compromisso renovado. Entre avanços tecnológicos e compromissos multilaterais, a COP30 reafirma sua vocação como conferência da implementação — e a presença jesuíta reforça que a ação pela justiça climática passa também pelo diálogo, pela fé e pela construção de alianças globais em defesa da Casa Comum.

O que vem por aí:

O segundo dia da COP30 destacará o papel das cidades, regiões e comunidades locais na implementação do Acordo de Paris. A agenda inclui painéis ministeriais sobre governança multinível, gestão de resíduos, economia circular e água, além da sessão “Mutirão contra o Calor Extremo”.

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