Grupos de fé e povos tradicionais destacam papel espiritual e ético na busca por justiça climática
Painel com apoio da Companhia de Jesus reuniu lideranças religiosas e indígenas para discutir implementação das NDCs e fortalecimento do diálogo inter-religioso e intercultural; Rádio Amar e Servir realiza entrevista exclusiva com Dom Nereudo Freire Henrique, da REPAM
Por Felipe Moura
Publicado em 11/11/2025 16:44
COP 30

Belém (PA) – O papel das comunidades de fé e dos povos tradicionais na construção de soluções frente à crise climática foi o foco do painel “Justiça Climática, Implementação de NDCs e a Contribuição dos Grupos de Fé”, realizado nesta terça-feira (11), na Sala Cumaru, no Pavilhão do Brasil (Zona Azul) da COP30. O evento, apoiado pela Companhia de Jesus, reuniu representantes de diferentes tradições religiosas, redes sociais e organizações de base que atuam na defesa da Casa Comum e na promoção da justiça climática.

Sônia Mota, do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso da COP30 e da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), destacou o potencial transformador da fé diante dos desafios ambientais. A teóloga indígena Jocabed R. Solano Miselis, da Rede de Fé pela Justiça Climática: América Latina, Caribe e Abya Yala, ressaltou que as cosmovisões originárias oferecem caminhos de reconexão com a Terra. Já Mametu Nangetu, do Instituto Nangetu de Tradição Afro-Religiosa, lembrou que as religiões de matriz africana sempre reconheceram a natureza como sagrada.

O sociólogo Clemir Fernandes, do Instituto de Estudos da Religião (ISER), que moderou o painel, reforçou a importância de integrar o campo religioso às estratégias de mitigação climática e à implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, esteve presente à programação pública da Zona Azul durante a manhã e a tarde e participou de atividades no Pavilhão do Brasil, trazendo a perspectiva governamental sobre ações relacionadas às NDCs e ao Balanço Ético Global. Sua presença reforçou o diálogo entre instâncias governamentais e atores religiosos e tradicionais durante a conferência.

Durante o evento, a equipe da Rádio Amar e Servir, veículo da Companhia de Jesus, realizou uma entrevista exclusiva com Dom Nereudo Freire Henrique, representante da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), que compartilhou uma reflexão profunda sobre o compromisso cristão diante da crise climática:

“Fico muito feliz porque percebo que várias denominações — cada uma com sua história, com seu jeito, com seus propósitos — têm algo em comum: Jesus Cristo. Depois, o cuidado com a vida, especialmente com a vida dos mais vulneráveis. E, mais ainda, o cuidado com o planeta, que estamos destruindo.

 Na linguagem do saudoso Papa Francisco, temos a missão de cuidar da Casa Comum. E, como eu falei, o cuidado com a vida e com a Casa Comum não é de hoje. A Igreja, em toda a sua história, tem o compromisso de defender a vida.

Já o Papa Leão XIII, na Rerum Novarum, fez uma boa provocação: chamou as pessoas à responsabilidade e ao cuidado, para que cada um possa viver a experiência do Evangelho.

Encontramos, na Doutrina Social da Igreja, o convite para nos tornarmos pessoas responsáveis. Mencionei também a Campanha da Fraternidade — Fraternidade e Ecologia — que nos mostra que a nossa fé provoca em nós uma atitude concreta.

São Tiago vai dizer: ‘A fé sem obras não tem sentido.’ Então, para mim, este é um momento de renovação e de esperança — um momento de retomada do cuidado com a vida e com o planeta.”

A realização do painel teve o apoio da Companhia de Jesus, em parceria com redes e organizações como a Oficina de Justiça, Ecologia e Meio Ambiente (OLMA), a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o Instituto de Estudos da Religião (ISER), a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso da COP30.

O diálogo evidenciou a convergência entre fé, ciência e políticas públicas, mostrando que uma ação climática eficaz depende também do reconhecimento das dimensões espirituais, culturais e éticas que sustentam a defesa da Casa Comum. Em um momento marcado pela ênfase na implementação — característica central da COP30 — participantes enfatizaram que a colaboração entre governos, comunidades tradicionais e grupos de fé é essencial para tornar as NDCs mais justas e efetivas.

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