Belém (PA) – A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) segue reunindo lideranças políticas, científicas e religiosas de todo o mundo em Belém, no Pará. Entre os diversos atores da sociedade civil, a Companhia de Jesus tem se destacado por sua atuação integrada e seu compromisso com a justiça socioambiental.
Em entrevista à Rádio Amar e Servir, o Pe. Filipe Martins, SJ, jesuíta português que atualmente vive em Bruxelas, onde atua como Delegado Social Europeu dos Jesuítas e Diretor do Jesuit European Social Centre (JESC), afirmou que esta deve ser “a COP da verdade e da implementação”. Segundo ele, o principal desafio das negociações é garantir que as decisões sejam concretas e aplicáveis.
“Todos esperam que este desejado mutirão, o trabalhar em conjunto, aconteça durante estas duas semanas, com decisões concretas para implementar medidas urgentes e necessárias. Creio que esse é o grande desejo de quem está aqui”, destacou.
A Companhia de Jesus participa da COP30 com uma delegação internacional de cerca de 20 pessoas, entre jesuítas, colaboradores e colaboradoras, representando diferentes regiões do mundo. O grupo integra a campanha Jesuítas pela Justiça Climática: Fé em Ação na COP30, que vem sendo desenvolvida há meses para fortalecer a incidência global da Igreja frente à emergência climática.
De acordo com o Pe. Filipe, o objetivo da campanha é ampliar a consciência sobre os efeitos da crise climática e mobilizar ações concretas, especialmente em defesa das comunidades mais vulneráveis. “A questão do clima não é apenas ambiental, mas profundamente humana. As secas, os desastres climáticos e as perdas afetam sobretudo os mais pobres. Por isso, os jesuítas querem ajudar a despertar uma consciência global sobre essa urgência”, explicou.
A iniciativa está organizada em três eixos centrais:
1. Financiamento climático – garantir recursos concretos para ações de mitigação e adaptação;
2. Transição justa – assegurar que as mudanças não deixem ninguém para trás, especialmente as populações mais afetadas;
3. Segurança alimentar – promover sistemas alimentares mais sustentáveis e solidários.
O jesuíta ressaltou que esses pontos são fundamentais para que as metas globais de redução das emissões e de justiça ambiental se tornem realidade. “Não basta anunciar compromissos. É preciso criar mecanismos que realmente garantam uma mudança de paradigma e uma nova forma de relação com o planeta”, afirmou.
Ao refletir sobre a presença da Igreja Católica na COP30 — considerada a maior já registrada desde o início das conferências do clima —, o Pe. Filipe destacou a importância de unir fé e ação concreta.
“Não faz sentido uma fé burguesa, que não se traduz em gestos. O Papa Francisco, assim como outros papas antes dele, tem nos lembrado que a Laudato Si’ não é uma encíclica ecológica, mas social. A fé cristã exige um compromisso com a vida, sobretudo com os mais vulneráveis”, declarou
O jesuíta também destacou o papel das Igrejas do Sul Global — especialmente da América Latina, da África e da Ásia — na mobilização por justiça climática. Ele recordou uma carta escrita por bispos desses continentes e enviada às Nações Unidas, reforçando a necessidade de que a mudança aconteça de forma concreta.
“Há muitas instituições ligadas à Igreja que não apenas pedem, mas mostram com exemplos locais, inclusive na Amazônia, que essa transformação é possível. A Igreja está chamando todos os cristãos e cristãs a se envolverem nessa mudança”, completou.
Com uma presença ativa nas arenas de debate e incidência política da COP30, a Companhia de Jesus reafirma seu compromisso com uma fé encarnada na realidade e voltada à defesa da Casa Comum. A atuação jesuíta reforça que a espiritualidade e o compromisso social caminham juntos na busca por um futuro mais justo, solidário e sustentável.