Ação local entra em cena na COP30: cidades e comunidades lideram a transição climática
No segundo dia em Belém, o foco se voltou para a governança multinível, edifícios resilientes, segurança hídrica e combate ao calor extremos, com lançamentos de planos e mobilização concreta para implementação territorial das metas climáticas.
Por Ronnaldh Oliveira
Publicado em 12/11/2025 13:03
COP 30

No dia 11 de novembro, o segundo dia da COP30 destacou como a liderança local e subnacional está impulsionando avanços climáticos concretos, nas casas, cidades e comunidades das pessoas.
Líderes de diferentes países e municípios demonstraram que a implementação começa no território, onde a ação climática melhora diretamente a vida das pessoas. Cidades também estiveram no centro das atenções, com soluções práticas para adaptação, infraestrutura, resíduos, água, economia circular e governança local. 

Um dos destaques foi a campanha Beat the Heat Implementation Drive, liderada conjuntamente pela presidência da COP30 e pela UNEP Cool Coalition que migrou da fase de planejamento para a fase de execução, com o objetivo de proteger 3,5 bilhões de pessoas em 185 cidades do calor extremo. 

Na Reunião Ministerial de Alto Nível sobre Urbanização e Mudança Climática, foi lançado o Plano para Acelerar a Governança Multinível (PAS), com a meta de incorporar estruturas de governança multinível em 100 NDCs até 2028, além de capacitar 6.000 servidores públicos locais. O Brasil e a Alemanha foram anunciados como copresidentes da nova fase da coalizão Coalition for High Ambition Multilevel Partnerships (CHAMP). 

Infraestrutura resiliente

Outro foco: a infraestrutura resiliente. A Buildings Breakthrough Initiative lançou normas globais para edifícios com consumo de energia próximo de zero e maior resiliência, e o plano No Organic Waste (NOW) comprometeu US$ 30 milhões para reduzir 30 % das emissões de metano de resíduos orgânicos até 2030, integrando 1 milhão de trabalhadores do setor de resíduos e recuperando 20 milhões de toneladas de excedentes alimentares por ano.

Na área de água e adaptação, foi anunciada a Programa de Investimento em Água da América Latina e do Caribe, com compromisso de US$ 20 bilhões até 2030 para segurança hídrica e modernização de sistemas de irrigação e abastecimento. Também foi lançada a Declaração Conjunta sobre Água e Ação Climática, marcando as águas como pilar central da adaptação global.

Para encerrar o dia, a Plenária Ministerial Global “Mutirão” reuniu ministros e prefeitos de mais de 80 países, reafirmando que o futuro do Acordo de Paris está sendo construído desde a base — por cidades, regiões e comunidades que lideram a luta por um mundo mais seguro e resiliente.

Companhia de Jesus COP30

A Campanha jesuítas pela Justiça Climática continou firme, contando dessa vez com a presença do Delegado Mundial para Justiça Socioambiental, Padre Roberto Jaramillo, SJ na zona azul. Padre Agnaldo Júnior realizou no espaço da Zona Verde e Tapiri Ecumênico, diálogos com a REPAM, CRB Nacional e outros organismos eclesiais. Já o secretário para Rede de Justiça Socioambiental, padre Jean Fábio Barbosa, SJ fomentou articulações no Tapiri Ecumënico. 

 

O que significa para o Brasil e para comunidades locais

Para o Brasil, anfitrião da COP30, o dia trouxe dois marcos importantes na governança climática:

  • Lançamento do PAS em Governança Multinível, coordenado pelos Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades, junto à ONU-Habitat. 
  • A copresidência da CHAMP assumida pelo Brasil e Alemanha até 2027, com a meta de criar plataformas nacionais de financiamento local (CPLFs) em países africanos como Camarões e Madagascar. 

Para estados, municípios, comunidades e o setor privado, o recado é claro: a lacuna entre compromisso e execução está sendo atacada. O foco agora é trazer resultados tangíveis — mitigação + adaptação + resiliência  conectados às realidades locais, envolvendo infraestrutura, água, calor extremo, resíduos, compras públicas e cidades inteligentes.

Para comunidades vulneráveis e territórios mais fracos em recursos, isso significa potencial acesso a financiamento, formação e parcerias para implementar soluções de resiliência — desde edifícios eficientes até gestão de água e economia circular de resíduos. Segundo a All India Disaster Mitigation Institute, a adaptação eficaz “acontece nos mercados de frutas, nos pátios de escola, ao redor de terminais de ônibus” e conecta com a vida cotidiana. 

 

Desafios e contradições: o que permanece pendente

Apesar dos avanços, a implementação efetiva ainda enfrenta obstáculos. Por exemplo, a mobilização de financiamento de adaptação continua muito aquém dos valores necessários,  estudos indicam que a adaptação anual exigirá cerca de US$ 310 bilhões até 2035, enquanto os fluxos atuais são muito menores.


Além disso, nota-se que a governança e os mecanismos de acompanhamento precisam se fortalecer para garantir que os compromissos locais resultem em mudanças reais e mensuráveis — conforme o relatório do “Yearbook of Global Climate Action 2025”.

 

Para o Brasil, há também o desafio de traduzir essas estruturas internacionais para realidades municipais e comunitárias diversificadas das grandes metrópoles aos municípios mais remotos na Amazônia, de onde se realiza a COP.

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