O terceiro dia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizado nesta quarta-feira (13) em Belém (PA), foi marcado por um clima de ação e otimismo. As discussões colocaram as pessoas, as habilidades e o patrimônio cultural no centro da transição climática, reafirmando que o empoderamento humano é essencial para a construção de uma economia de baixo carbono e socialmente justa.
Um dos destaques do dia foi o lançamento da Iniciativa Global sobre Empregos e Habilidades para a Nova Economia, que reuniu governos, indústrias e sociedade civil para integrar políticas de trabalho e formação profissional às estratégias econômicas e climáticas. O relatório apresentado indica que a transição ecológica pode criar cerca de 375 milhões de novos empregos na próxima década, enquanto atividades de adaptação têm potencial para gerar 280 milhões de oportunidades adicionais.
O Brasil está entre os oito países que já aderiram ao plano inicial, ao lado de Camboja, Indonésia, Quênia, Paquistão, Filipinas, África do Sul e Egito. A meta é reunir mais de 20 países e 40 instituições até 2028, consolidando uma base global de capacitação e inovação sustentável.
Conhecimento ancestral e inclusão
O evento ministerial “Adaptação Indígena” destacou o protagonismo dos povos originários na construção de políticas climáticas eficazes. Líderes indígenas de diferentes regiões apresentaram experiências de planejamento comunitário, com destaque para os cinco planos de adaptação desenvolvidos pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), modelo que pode ser replicado por outros povos no mundo.
A participação indígena reforçou a importância de integrar o conhecimento tradicional e a governança local na definição de indicadores do Objetivo Global de Adaptação (GGA). Além disso, foram anunciados novos compromissos de financiamento direto para projetos liderados por povos indígenas.
Representantes da Companhia de Jesus também acompanharam as discussões, ressaltando a necessidade de que a ação climática esteja enraizada em valores de justiça socioambiental, solidariedade e inclusão. Segundo a delegação jesuíta presente em Belém, o fortalecimento das capacidades humanas e comunitárias é fundamental para garantir uma transição justa que não deixe ninguém para trás.
Combate à desinformação ganha espaço na agenda oficial
Pela primeira vez, a Integridade da Informação entrou de forma destacada na agenda da COP. A iniciativa, liderada pela UNESCO, recebeu a adesão de seis novos Estados-membros — Bélgica, Canadá, Finlândia, Alemanha, Espanha e Países Baixos — e lançou um plano até 2028 para apoiar países na criação de marcos legais, além de mobilizar US$ 10 milhões destinados a fortalecer a comunicação climática, especialmente no Sul Global.
A medida surge após o Relatório de Riscos da ONU 2024 identificar a desinformação como uma das principais ameaças à ação climática. A proposta inclui ainda a elaboração de uma Carta de Princípios para Publicidade Climática Responsável, envolvendo editoras, plataformas digitais e empresas de inteligência artificial.
Finanças e cultura na transição justa
O espírito de colaboração também se estendeu às áreas econômica e cultural. A UNIDO e a Iniciativa de Descarbonização Industrial Profunda (IDDI) apresentaram o Plano de Compras Públicas Sustentáveis, que pretende utilizar os trilhões de dólares movimentados por governos em compras públicas para impulsionar a produção e o consumo de materiais de baixo carbono.
Paralelamente, o Fórum de Proprietários de Ativos reuniu investidores e representantes do setor financeiro para alinhar políticas e fortalecer o financiamento climático, antecipando os debates do Dia das Finanças, marcado para esta sexta-feira (14).
Na esfera cultural, o evento “Narrativas e Contação de Histórias para Enfrentar a Crise Climática” reuniu nomes como Margareth Menezes, Davi Kopenawa, Janja Lula da Silva, Claudia Roth, Kumi Naidoo e Juliano Salgado. O encontro lançou o Plano para Acelerar a Integração do Patrimônio Cultural nos Planos Nacionais de Adaptação, que busca incluir a cultura e o patrimônio nos planos climáticos dos países.
“A arte e a cultura são pontes poderosas — conectam corações, despertam consciência e movem as pessoas para a ação”, afirmou a ministra Margareth Menezes, destacando o papel da cultura como força de mobilização global.
Juventude e justiça climática
O Diálogo de Alto Nível sobre Liderança Intergeracional, promovido pelos Campeões Jovens do Clima, reforçou o papel da juventude na construção de soluções climáticas justas. “Além do racismo ambiental, além da injustiça, continuamos lutando — e precisamos dos jovens nessa luta”, disse Marcele Oliveira, Campeã Jovem da Presidência da COP30.
Na Maloca da COP, espaço que reúne vozes de justiça e cultura, o Círculo dos Povos manteve uma programação intensa, com destaque para o Ritual de Abertura da COP Indígena, conduzido pela ministra Sonia Guajajara, que reafirmou o compromisso do Brasil com o desmatamento zero e o equilíbrio climático.
Ao final do dia, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, destacou o tom colaborativo das discussões:
“Há um forte indicativo de que todos aqui querem mostrar ao mundo que o multilateralismo funciona — e que estamos todos juntos para provar isso. ”
O que vem a seguir:
O quarto dia da COP30 abordará os temas Saúde, Educação, Justiça e Direitos Humanos, Empregos, Cultura e Integridade da Informação, com a realização da Reunião Ministerial de Saúde e Clima e o Diálogo Climático de Belém com Povos Indígenas.