A oito quilômetros do centro oficial das negociações da COP30, na Universidade Federal do Pará (UFPA), milhares de indígenas, quilombolas, ribeirinhos, povos de terreiro, campesinos, juventudes e movimentos sociais dão início a mais uma edição da Cúpula dos Povos. O espaço, reconhecido por trazer ao debate ambiental grupos historicamente marginalizados nos processos decisórios, volta a acontecer após três anos de interrupção devido às restrições impostas pelas sedes anteriores — Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão — que dificultaram a realização de eventos paralelos e manifestações da sociedade civil.
Com críticas à limitada participação das comunidades tradicionais nas instâncias formais de negociação e com propostas baseadas em saberes ancestrais, a Cúpula reafirma seu papel histórico: reunir aqueles que enfrentam diariamente os impactos da crise climática, mas que também apresentam soluções concretas e sustentáveis para superá-la.
Companhia de Jesus marca presença
A Companhia de Jesus participa de diversas mesas, rodas de conversa e oficinas ao longo da programação. O diretor do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), Silvio Marques, SJ, reforçou a importância da presença articulada da Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental:
“Nós, da Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental, estivemos em uma atividade sobre financiamento das florestas tropicais, um fundo que o governo Lula quer fundar. Também estamos debatendo o direito da natureza e trabalhando com o Agrofogo, esse coletivo importante, sobre desmatamento e incêndios na Amazônia. Nossa rede se faz presente mais uma vez com todo mundo aqui.”

Entre as atividades desta quinta-feira, ocorreu a oficina “Senti-Pensar com a Natureza: Caminhos de Bem-Viver e Dignidade Planetária”, organizada pela Articulação Brasileira pelos Direitos da Natureza, pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (Olma) e Rede de Justiça Socioambiental da Companhia de Jesus. O encontro buscou promover reflexões sobre espiritualidade ecológica, cuidado com a casa comum e o reconhecimento jurídico da natureza.
Diretamente do Caribe, Amin Matias, do Centro Montalvo — obra social da Companhia de Jesus na República Dominicana — destacou a importância de dar visibilidade aos direitos da terra:
“Neste momento, estamos participando de uma atividade sobre os direitos da natureza e da terra, em demanda de que a terra seja reconhecida como sujeito de direitos, especialmente os territórios da Amazônia, que desde seus ancestrais defendem a terra. Estamos aqui colaborando e, desde o Caribe, apoiando a declaração dos direitos da natureza, especialmente os direitos da terra da Amazônia.”
Mobilização contínua
A Cúpula dos Povos segue ao longo da semana com plenárias, assembleias territoriais, apresentações culturais, marchas e atividades de incidência política, reafirmando o protagonismo dos povos e comunidades tradicionais na construção de um futuro mais justo, sustentável e alinhado ao bem-viver.
Em Belém, enquanto líderes mundiais negociam metas climáticas, a Cúpula ecoa outra mensagem — a de que não haverá justiça climática sem a escuta e o protagonismo daqueles que historicamente protegem os territórios.
