A noite de quinta-feira (13/11) foi marcada por um forte gesto de unidade espiritual e compromisso socioambiental em Belém (PA). A Vigília pela Terra, realizada na Praça Batista Campos, integrou a programação do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso da COP30 e reuniu fé, espiritualidade, arte e resistência em defesa da Casa Comum e dos territórios amazônicos.
O encontro mobilizou representantes de mais de dez tradições religiosas, povos originários, coletivos culturais, artistas, movimentos sociais e ambientalistas. A atividade reafirmou a potência das espiritualidades na luta pela justiça climática e pelo cuidado com a Amazônia.
A programação iniciou às 17h30 com o rito simbólico do encontro das águas, gesto que expressou a integração entre os territórios por onde a Vigília passou antes de chegar a Belém — uma caminhada marcada por espiritualidades diversas e histórias comuns de defesa da vida.
Entre as expressões presentes, destacaram-se a apresentação do Grupo de Atividades Culturais Ayrakyrã, com Carimbó tradicional, e o bloco Vozes pela Terra, formado por lideranças religiosas que conduziram orações, cantos e reflexões sobre a proteção dos povos e do planeta.

“Somos um com a terra”, afirma Pe. Silas Moésio, SJ
Diretor do Centro MAGIS Amazônia, o Pe. Silas Moésio sublinhou a dimensão espiritual e política da vigília. Para ele, o cuidado com a Amazônia é inseparável da defesa da vida:
“A Vigília nos faz reconhecer que somos um com a terra — terra que nos sustenta, nos alimenta e é nossa morada. Toda vez que a terra é destruída, estamos destruindo a nossa Casa Comum. Muitos pensam somente no lucro e ignoram a vida dos povos, da floresta e das águas.”

O jesuíta destacou ainda o caráter sagrado e ancestral dos territórios amazônicos e a necessidade de enfrentar preconceito, discriminação e racismo para que a justiça climática se concretize.
Água como direito e elemento sagrado
O Pe. Sandoval Alves Rocha, SJ, coordenador do Núcleo Apostólico Manaus e representante do Fórum das Águas de Manaus, ressaltou a diversidade religiosa presente no ato e a importância de unir espiritualidades em torno da defesa climática:
“Aqui percebemos religiões indígenas, africanas, cristãs, enfim, uma diversidade que está em sintonia com a terra. E isso é essencial para quem trabalha também com os conflitos hídricos. A água é um elemento sagrado, e aprendemos com a sabedoria indígena a cuidá-la e defendê-la como um direito de todas as pessoas.”
Para ele, a Vigília fortalece a dimensão espiritual da luta socioambiental, ampliando a consciência sobre a proteção das águas e dos bens naturais.

Retomar uma história de mobilização inter-religiosa
Clemir Fernandes, diretor executivo adjunto do Instituto de Estudos da Religião (ISER), destacou que a Vigília pela Terra retoma um legado histórico iniciado na ECO-92, no Rio de Janeiro, quando lideranças globais como Dalai Lama, Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida se uniram em defesa da ecologia e dos povos.
Ele lembrou que, para a COP30, o movimento percorreu várias cidades — Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Manaus, Natal e Recife — até culminar em Belém:
“As vigílias mobilizam comunidades religiosas e organizações baseadas na fé para enfrentar as mudanças climáticas e cuidar da Casa Comum. As religiões têm uma linguagem própria que ajuda a compreender o cuidado com a criação e a responsabilidade compartilhada.”
Segundo Fernandes, unir tradições religiosas, cientistas do clima, movimentos ambientais e comunidades fortalece a atuação coletiva e ajuda a construir caminhos mais eficazes para a justiça socioambiental.

Um gesto comum pela Amazônia
A Vigília pela Terra, ao reunir espiritualidades diversas em uma só voz, reforçou que a defesa da Amazônia e da Casa Comum é uma tarefa comum. No coração da COP30, o ato reafirmou que fé e compromisso socioambiental caminham juntos — e que a justiça climática nasce do respeito aos territórios, aos povos e à vida em todas as suas formas.
