Vigília pela Terra reúne tradições religiosas em defesa da Casa Comum em Belém
Atividade do Tapiri Ecumênico da COP30 reúne diversas espiritualidades, com forte presença da Companhia de Jesus, em defesa da Amazônia e da Casa Comum
Por Felipe Moura
Publicado em 14/11/2025 10:37 • Atualizado 14/11/2025 10:42
COP 30
FOTO: Felipe Moura

A noite de quinta-feira (13/11) foi marcada por um forte gesto de unidade espiritual e compromisso socioambiental em Belém (PA). A Vigília pela Terra, realizada na Praça Batista Campos, integrou a programação do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso da COP30 e reuniu fé, espiritualidade, arte e resistência em defesa da Casa Comum e dos territórios amazônicos.

O encontro mobilizou representantes de mais de dez tradições religiosas, povos originários, coletivos culturais, artistas, movimentos sociais e ambientalistas. A atividade reafirmou a potência das espiritualidades na luta pela justiça climática e pelo cuidado com a Amazônia.

A programação iniciou às 17h30 com o rito simbólico do encontro das águas, gesto que expressou a integração entre os territórios por onde a Vigília passou antes de chegar a Belém — uma caminhada marcada por espiritualidades diversas e histórias comuns de defesa da vida.

Entre as expressões presentes, destacaram-se a apresentação do Grupo de Atividades Culturais Ayrakyrã, com Carimbó tradicional, e o bloco Vozes pela Terra, formado por lideranças religiosas que conduziram orações, cantos e reflexões sobre a proteção dos povos e do planeta.

“Somos um com a terra”, afirma Pe. Silas Moésio, SJ

Diretor do Centro MAGIS Amazônia, o Pe. Silas Moésio sublinhou a dimensão espiritual e política da vigília. Para ele, o cuidado com a Amazônia é inseparável da defesa da vida:

“A Vigília nos faz reconhecer que somos um com a terra — terra que nos sustenta, nos alimenta e é nossa morada. Toda vez que a terra é destruída, estamos destruindo a nossa Casa Comum. Muitos pensam somente no lucro e ignoram a vida dos povos, da floresta e das águas.”

O jesuíta destacou ainda o caráter sagrado e ancestral dos territórios amazônicos e a necessidade de enfrentar preconceito, discriminação e racismo para que a justiça climática se concretize.

Água como direito e elemento sagrado

O Pe. Sandoval Alves Rocha, SJ, coordenador do Núcleo Apostólico Manaus e representante do Fórum das Águas de Manaus, ressaltou a diversidade religiosa presente no ato e a importância de unir espiritualidades em torno da defesa climática:

“Aqui percebemos religiões indígenas, africanas, cristãs, enfim, uma diversidade que está em sintonia com a terra. E isso é essencial para quem trabalha também com os conflitos hídricos. A água é um elemento sagrado, e aprendemos com a sabedoria indígena a cuidá-la e defendê-la como um direito de todas as pessoas.”

Para ele, a Vigília fortalece a dimensão espiritual da luta socioambiental, ampliando a consciência sobre a proteção das águas e dos bens naturais.

Retomar uma história de mobilização inter-religiosa

Clemir Fernandes, diretor executivo adjunto do Instituto de Estudos da Religião (ISER), destacou que a Vigília pela Terra retoma um legado histórico iniciado na ECO-92, no Rio de Janeiro, quando lideranças globais como Dalai Lama, Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida se uniram em defesa da ecologia e dos povos.

Ele lembrou que, para a COP30, o movimento percorreu várias cidades — Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Manaus, Natal e Recife — até culminar em Belém:

“As vigílias mobilizam comunidades religiosas e organizações baseadas na fé para enfrentar as mudanças climáticas e cuidar da Casa Comum. As religiões têm uma linguagem própria que ajuda a compreender o cuidado com a criação e a responsabilidade compartilhada.”

Segundo Fernandes, unir tradições religiosas, cientistas do clima, movimentos ambientais e comunidades fortalece a atuação coletiva e ajuda a construir caminhos mais eficazes para a justiça socioambiental.

Um gesto comum pela Amazônia

A Vigília pela Terra, ao reunir espiritualidades diversas em uma só voz, reforçou que a defesa da Amazônia e da Casa Comum é uma tarefa comum. No coração da COP30, o ato reafirmou que fé e compromisso socioambiental caminham juntos — e que a justiça climática nasce do respeito aos territórios, aos povos e à vida em todas as suas formas.


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