Dia 10 da COP30 reforça transformação dos sistemas alimentares e liderança comunitária na ação climática
Agricultura, sistemas alimentares, igualdade de gênero e soluções lideradas por comunidades marcaram a quarta-feira, 19 de novembro, em Belém
Por Felipe Moura
Publicado em 20/11/2025 10:20
COP 30
Belém PA - 19.11.2025- COP30 Belém Amazônia (DAY 10) - COP 30 Global Climate Action High-Level Event: Accelerating Implementation. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

O Dia 10 da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) reforçou que transformar a forma como o mundo produz, protege e consome alimentos é decisivo para enfrentar a crise climática. Com foco em agricultura, segurança alimentar, pesca, agricultura familiar, gênero, mulheres, afrodescendentes e turismo, a quarta-feira (19) apresentou novos planos, alianças e compromissos para acelerar soluções práticas e inclusivas.

A mensagem central do dia foi clara: restaurar terras, fortalecer comunidades e apoiar sistemas alimentares resilientes é fundamental para garantir que nenhuma população seja deixada para trás em um clima em rápida mudança.

Impulsionando o futuro da alimentação

Um dos anúncios de maior destaque foi o lançamento do Acelerador RAIZ, apoiado por dez países — incluindo Brasil, Austrália, Canadá e Reino Unido — com o objetivo de restaurar terras agrícolas degradadas e mobilizar capital privado em escala global. A iniciativa, apoiada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, irá mapear áreas prioritárias e desenvolver mecanismos financeiros capazes de reduzir riscos e atrair investimentos.

Segundo estimativas apresentadas, quase um bilhão de hectares agrícolas no mundo estão degradados. Restaurar apenas 10% dessa área poderia gerar alimentos suficientes para atender 154 milhões de pessoas.

O dia também trouxe avanços para a agricultura familiar com o lançamento do Plano TERRA, que fortalece cooperativas, amplia centros de formação regional e incentiva práticas de agroecologia e agrofloresta. Já nos sistemas alimentares aquáticos, dois novos Planos para Acelerar Soluções foram apresentados, reforçando o papel de algas e alimentos aquáticos na segurança alimentar e na inclusão econômica de mulheres e jovens.

Agenda de Ação e multilateralismo em movimento

No plenário Tocantins, o Evento de Alto Nível da Agenda Global de Ação Climática (GCA) celebrou os 117 Planos para Acelerar Soluções desenvolvidos durante a COP30. Para Ana Toni, CEO da COP30, o momento marca a consolidação de bases sólidas para os próximos cinco anos: “Estamos prontos para avançar com propósito”.

Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível para o Clima, destacou que o espírito de “Mutirão” — esforço coletivo — define esta edição da COP e deve guiar a ação climática global daqui em diante.

A Aliança de Campeões para a Transformação dos Sistemas Alimentares também ampliou sua atuação, incorporando Colômbia, Vietnã e Itália, e apresentando novos mecanismos de cooperação global para acelerar a transição.

Gênero e clima: protagonismo e justiça

O Dia do Gênero na COP30 trouxe iniciativas voltadas para fortalecer a liderança feminina em emergências climáticas, com o lançamento de um protocolo brasileiro em parceria com a Organização das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres e ONU Mulheres. As diretrizes incluem ações sensíveis ao gênero para prevenção, resposta e recuperação.

Na sessão “Mulheres: vozes que guiam o futuro”, lideranças dos seis biomas brasileiros relataram como estão promovendo resiliência climática em seus territórios. A ministra Marina Silva ressaltou o processo de escuta promovido em todo o país como um “balanço ético auto-organizado”.

Inovação para reduzir emissões de fertilizantes

Outra frente crucial foi a Declaração de Belém sobre Fertilizantes, anunciada por Brasil e Reino Unido, acompanhada de um Plano para Acelerar Soluções que estabelece padrões internacionais de baixa emissão, incentiva pesquisas e apoia agricultores com ferramentas digitais e sistemas de IA. A iniciativa recebeu apoio de organismos como FAO, Banco Mundial, Agência Internacional de Energia e diversas coalizões globais.

Para o Banco Mundial, investir em sistemas agrícolas é urgente: “Os pequenos agricultores estão na linha de frente dos impactos climáticos”, afirmou Valerie Hickey, diretora global de mudanças climáticas da instituição.

Mobilização Global: soluções que nascem dos territórios

No espaço da Mobilização Global, a sessão “Mutirão nos Territórios” destacou iniciativas comunitárias que já estão entregando resultados, desde agroecologia em áreas rurais até governança florestal liderada por povos indígenas. O debate reforçou que essas soluções, apesar de eficazes, ainda carecem de visibilidade e recursos.

Também no pavilhão da Organização de Estados Ibero-Americanos, jovens latino-americanos defenderam um multilateralismo renovado, pautado pela justiça climática, cultura, conhecimento ancestral e pela participação real da juventude nos processos decisórios.

O que esperar do Dia 11 da COP30

A quinta-feira (20) terá foco em raça, igualdade étnico-racial, povos indígenas e inteligência planetária:

·         10:00 – 12:00: Ação climática centrada nas pessoas: reconhecendo o papel das mulheres e meninas de descendência africana

·         11:00 – 13:30: Diálogos para soluções climáticas sensíveis à raça e à igualdade étnico-racial

·         12:30 – 14:00: Mutirão Global – Um Legado Duradouro

·         14:30 – 16:00: Povos Indígenas e Comunidades Locais na ação climática global

·         17:30 – 18:00: Rede de Inteligência Planetária Aberta (OPIN)

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